Estilo de vida
10/07/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 10/07/2024 às 18:00
Em busca da semente de uva mais antiga do hemisfério ocidental, as pesquisadoras Fabiana Herrera e Mônica Carvalho se depararam com as preciosas sementes fósseis, quando percorriam os Andes colombianos em 2022. Relatada em um artigo publicado recentemente na Nature Plants, a descoberta foi feita em quatro paleofloras neotropicais datadas entre 60 e 19 milhões de anos.
A descoberta dessas sementes, apenas alguns milhões de anos mais jovens do que as mais antigas já encontrado no outro lado do mundo (na Índia), reforça a tese de que essa proliferação de uvas no planeta ocorreu como consequência da extinção dos dinossauros ocorrida no Cretáceo-Paleogene.
Como a queda do asteroide gigante que dizimou os dinossauros ocorreu na icônica cratera de Chicxulub, no México, há cerca de 66 milhões, mesma época em que as uvas indianas fossilizadas foram datadas, a nova descoberta sugere que a diversidade botânica dos Neotrópicos (Américas Latina e do Norte) também foi moldada pelas grandes extinções.
Extremamente difícil de encontrar, a semente fóssil de uva é muito pequena, mas foi identificada pela dupla de pesquisadoras, em sua peregrinação pela Colômbia, Panamá e Peru, devido à sua forma, tamanho e algumas características morfológicas exclusivas.
A confirmação definitiva só ocorreu por meio de tomografias computadorizadas, realizadas pela dupla após sua volta ao laboratório.
O fóssil foi batizado pela equipe como Lithouva susmanii, versão em latim para "uva de caroço de Susman", em homenagem ao paleobotânico Arthur T. Susman. Para o coautor Gregory Stull, do Museu Nacional de História Natural de Washington, a nova espécie "é importante porque apoia uma origem sul-americana do grupo no qual a videira comum Vitis evoluiu".
A hipótese de Herrera e sua equipe é que o desaparecimento de animais massivos, como os dinossauros, pode ter sido benéfico às florestas. Em um release, a coautora Mônica Carvalho explica que "animais grandes, como dinossauros, são conhecidos por alterar os ecossistemas ao redor".
Isso significa que, se estivessem vivos, provavelmente esses habitantes do Jurassic Park teriam continuado a pisotear as árvores em seu entorno, mantendo as florestas mais aberta do que hoje. E a prova disso é que, "no registro fóssil, começamos a ver mais plantas que usam trepadeiras para subir em árvores, como uvas, naquela época", acrescentou Herrera.
Hoje curadora assistente de paleobotânica do Field Museum, em Chicago, Fabiany explica que, como os dinossauros foram as maiores coisas a serem afetadas pela queda do asteroide, às vezes nos esquecemos de que esse fenômeno teve um impacto importante na flora também. Ou seja, "a floresta se recompôs de uma forma que mudou a composição das plantas", conclui.