Ciência
16/07/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 16/07/2024 às 09:00
O aquecimento global, um problema já tão conhecido por suas consequências no clima e nos oceanos, está prestes a causar um impacto devastador em uma fonte vital para milhões de pessoas: as águas subterrâneas. Um estudo recente revela que até o final do século, quase 590 milhões de pessoas poderão depender de fontes de água subterrânea que não atendem aos padrões mais rigorosos de potabilidade.
Cerca de um em cada quatro humanos depende de reservatórios subterrâneos para sobreviver, especialmente em regiões onde a água superficial é escassa. No entanto, com o aquecimento global, as águas subterrâneas estão aquecendo a uma taxa alarmante.
Devido ao aumento das temperaturas, esses reservatórios, fundamentais para o consumo humano, a agricultura e a indústria, podem se tornar tóxicos, comprometendo seriamente a segurança hídrica de populações ao redor do mundo.
Pesquisadores desenvolveram um modelo global que projeta aumentos significativos nas temperaturas dessas águas, especialmente em áreas com lençóis freáticos rasos ou com altas taxas de aquecimento atmosférico, como o norte da China, a Rússia Central, partes da América do Norte e a floresta amazônica.
De acordo com o estudo, o modelo prevê um aumento médio de 2,1 °C na temperatura das águas subterrâneas entre 2000 e 2100. Como esse é um valor médio, compreende-se que em algumas regiões a água ficará ainda mais quente.
O aumento das temperaturas não só afeta a qualidade da água, tornando-a potencialmente perigosa para consumo sem tratamento adequado, mas também pode perturbar ecossistemas inteiros, influenciando a vida aquática e processos biogeoquímicos.
Águas subterrâneas aquecidas podem dissolver concentrações excessivas de metais pesados como arsênio e manganês, além de facilitar o crescimento de bactérias perigosas.
Atualmente, cerca de 30 milhões de pessoas já vivem em regiões onde a temperatura da água subterrânea excede os limites seguros para potabilidade. Até 2100, esse número pode subir dramaticamente, dependendo do cenário de emissão de gases de efeito estufa que se concretizar.
No cenário mais pessimista, 588 milhões de pessoas poderão precisar tratar a água antes de consumi-la, uma tarefa que muitas comunidades, especialmente as mais pobres, podem achar impossível de realizar.
Os impactos vão além da saúde pública: águas subterrâneas são vitais para a agricultura e a indústria. O aquecimento dessas águas pode causar perdas econômicas, diminuindo a eficiência no resfriamento de equipamentos e na irrigação, o que pode interromper processos e prejudicar a produção de alimentos.
A pesquisa destaca a urgência de proteger esse recurso vital. O desenvolvimento de um aplicativo interativo do Google Earth Engine, que mostra mudanças projetadas na temperatura das águas subterrâneas por região, é um passo importante para aumentar a conscientização e apoiar decisões informadas.
No entanto, apenas a conscientização não é suficiente. É crucial que governos e comunidades tomem medidas concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e investir em tecnologias de tratamento de água.
O aquecimento das águas subterrâneas é um problema complexo que requer uma abordagem multifacetada. Além de mitigar as mudanças climáticas, é essencial desenvolver infraestrutura para tratamento de água e implementar políticas que protejam os aquíferos.
Para muitas comunidades, especialmente aquelas com menos recursos, isso pode significar a diferença entre ter acesso a água potável segura e enfrentar crises hídricas devastadoras.
É hora de reconhecer a gravidade dessa ameaça e trabalhar coletivamente para garantir que todas as pessoas tenham acesso a água segura e limpa, agora e no futuro.