Saúde/bem-estar
21/04/2024 às 12:00•3 min de leituraAtualizado em 21/04/2024 às 12:00
A história evolutiva das cigarras começou no período Paleozoico, muito antes da existência dos humanos, por volta de 300 milhões de anos atrás. Apesar de existirem mais de 3 mil espécies do inseto no mundo atualmente, o ciclo de reprodução continua o mesmo: quando ovos, as cigarras vivem no chão ou em fendas nas cascas de árvores, onde se alimentam das raízes das plantes durante vários anos. Dependendo da espécie, esse ciclo pode chegar a 17 anos de duração.
Enquanto isso, as cigarras crescem gradualmente e, quando os ovos eclodem, emergem em sua forma jovem, chamada de ninfa, que se parece com pequenos insetos sem asas. Esse momento geralmente acontece à noite e sempre em conjunto. Assim, elas se transformam em sua versão adulta por meio de um processo chamado ecdise final, em que a ninfa abandona seu exoesqueleto e surge como uma cigarra alada. Ela vive de três a quatro semanas ao ar livre, aproveitando para acasalar e colocar ovos antes de morrer. Estima-se que cada fêmea produz até 600 ovos.
Poucos sabem que a vida e presença das cigarras são indicadores de boa saúde e biodiversidade dos ecossistemas. Elas contribuem para o controle de pragas ao consumirem uma variedade de plantas, inclusive daninhas e árvores enfermas, controlando o crescimento de plantas indesejadas e colaborando com a saúde das florestas e demais habitats. Além disso, uma vez que seus ovos são depositados no solo e as ninfas se alimentam de fluidos das raízes das plantas, isso ajuda na ciclagem de nutrientes que melhoram a fertilidade do solo.
Em 2024, acontecerá o denominado "apocalipse das cigarras", um fenômeno raro em que duas ninhadas contendo trilhões de cigarras vão emergir ao mesmo tempo.
Segundo um estudo minucioso feito pela equipe de Jeffrey Lockwood, um entomologista e professor de Ciências Naturais e Humanas da Universidade de Wyoming, existe uma maior concentração de cigarras na América do Sul e Central e em toda a Ásia, porque elas tendem a ficar em áreas florestais. Na América do Norte, por exemplo, será comum ver os exoesqueletos delas em Ohio, Pensilvânia e Maryland, onde o estudo estima que exista mais de 1,5 milhão de cigarras subterrâneas por acre.
A Sociedade de Ecologia da América estimou que a biomassa total do inseto para uma determinada área é maior do que a biomassa do gado que a mesma área seria capaz de sustentar. Estamos falando de trilhões de cigarras em certas áreas dos EUA.
Das 3 mil espécies de cigarras, apenas sete são chamadas de "cigarras periódicas", ou seja, que compartilham ciclos de vida sincronizados que permitem que elas saiam simultaneamente a cada 13 ou 17 anos. Quase todas desse tipo são encontradas no centro e no leste da América do Norte. Na primavera de 2021, o grupo de cigarras chamado Brood X emergiu em toda a região do Médio-Atlântico pela primeira vez desde 2004, em uma revoada de bilhões de insetos.
Agora estamos falando da eclosão simultânea de duas das maiores ninhadas de cigarras periódicas que existem, conhecidas como Brood XIX e Brood XIII. Elas devem cobrir as áreas do Arkansas, Georgia, Kentucky, Illinois, Indiana, Alabama, Missouri, Oklahoma, Carolina do Norte e do Sul, Virgínia, Mississippi, Louisiana, Tennessee, Iowa e Wisconsin.
O "evento de convergência" ganhou o nome "apocalipse das cigarras" pela mídia porque se trata de um fenômeno de dupla emergência de ninhadas de tempos diferentes preenchendo os ares, podendo, potencial e supostamente, se chocar. Se isso acontecesse, significaria uma luta por alimento ou até mesmo alteração genética.
O evento só ocorre a cada 221 anos, quando as cigarras de 13 e 17 anos se sobrepõem. A última vez que aconteceu foi em 1803, quando Thomas Jefferson era presidente dos EUA, e não deve voltar a acontecer antes de 2245. Inclusive, ainda não existe um consenso científico no que diz respeito às teorias sobre o motivo pelo qual os ciclos de vida dessas cigarras são em números primos.
Para o Dr. Chris Simon, professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade de Connecticut, é um exagero dizer que as ninhadas de cigarras se sobreporão, apesar de estarem geograficamente muito próximas.
“Não temos certeza de que elas realmente irão se sobrepor, tampouco se haverá algum efeito negativo nisso”, disse à CNN. Ele informou isso com propriedade, afinal seu grupo de pesquisa possui um site com informações geográficas acerca de onde cada ninhada de cigarras está posicionada ao longo do território dos EUA.
Enquanto isso, os especialistas tentam diminuir o medo quase que patológico dos estadunidenses com qualquer tipo de inseto, à medida que o dia do "apocalipse das cigarras" se aproxima.
“As cigarras não picam, não mordem, e não vão tentar ir atrás de você”, disse Elizabeth Barnes, educadora entomológica da Universidade de Purdue, ao The National Geographic. Ela também acrescentou que o fenômeno incrível, que deve ser admirado, não causará nenhum problema às plantações, visto que o alvo preferido das cigarras são as árvores. Em vez de devorar plantações, como os gafanhotos fazem, elas contribuem para o ecossistema podando galhos fracos, liberando nutrientes de volta ao solo quando morrem e servindo como uma fonte de alimento para pássaros e outros animais.
Além disso, o surgimento dessas ninhadas não só é um indicativo de que as florestas estão saudáveis o suficiente para funcionar, mas servem para lembrar que os insetos e os animais chegaram primeiro do que os humanos e devem manter seu ciclo natural para a manutenção do planeta.