Estilo de vida
19/03/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 21/03/2024 às 10:49
Como somos capazes de sentir o frio? Embora seja uma capacidade comum a muitos animais, essa foi uma pergunta que, durante muito tempo, permaneceu sendo uma grande incógnita, motivando pesquisadores de todo o mundo a reunirem evidências. E considerando ainda que entre nós, humanos, essa sensação varia bastante, com pessoas mais sensíveis ao frio do que outras, definitivamente se trata de um tópico de interesse geral.
Em um novo estudo publicado na revista Nature Communications, pesquisadores da Universidade de Michigan encontraram o motivo por trás dessa sensação de frio, ou melhor, detectaram qual proteína que está associada a essa capacidade de perceber o frio mais intenso.
Para que chegassem a esse resultado, vale destacar, que os caminhos traçados anos atrás foram cruciais. Como amostra disso, um estudo publicado em 2019 na revista Cell forneceu a primeira evidência da existência de uma proteína receptora da sensação de frio em Caenorhabditis elegans, que são vermes encontrados em países de clima temperado.
Esse verme é considerado importante no ramo da biologia do desenvolvimento, especialmente do corpo humano, dada as muitas semelhanças compartilhadas entre esse e outros animais. Ao localizar um determinado gene na C. elegans, pesquisadores também notaram sua presença em outros mamíferos, como camundongos.
A partir dessa descoberta, então, os pesquisadores da Universidade de Michigan seguiram pelo caminho que estava parcialmente trilhado e o termossensor de frio em mamíferos foi finalmente descoberto. A responsável por essa função é uma proteína chamada GluK2 (Glutamate ionotropic receptor kainate type subunit 2, em inglês).
Para comprovar isso, a equipe optou por avaliar como ratos que não tinham esse gene GluK2 se comportavam quando expostos a temperaturas diferentes. Enquanto diante de temperaturas quentes, mornas e amenas eles reagiam, diante do frio mais pronunciado, abaixo de 15 °C, eles não apresentavam qualquer resposta. A proteína GluK2 pode ser encontrada no nosso cérebro, mais especificamente nos neurônios.
Mas depois, foi constatado que ela também está presente em nosso sistema nervoso periférico, fora desse órgão. Isso significa que ela é expressa em neurônios sensoriais, e assim que sentimos essas temperaturas mais frias, o cérebro é rapidamente avisado.
Em comunicado oficial, Bo Duan, que é principal autor do estudo, comentou sobre o papel dessa proteína: "a GluK2 desempenha uma função totalmente diferente no sistema nervoso periférico, processando sinais de temperatura em vez de sinais químicos para sentir o frio".
Ele ainda acredita que sua presença seja um resquício deixado por outras espécies em meio ao processo de evolução: "uma bactéria não tem cérebro, então por que desenvolveria uma forma de receber sinais químicos de outros neurônios? Mas ela teria grande necessidade de sentir o seu ambiente, e talvez tanto a temperatura como os produtos químicos".
“Acho que a detecção de temperatura pode ser uma função antiga e que acabou sendo integrada à medida que os organismos evoluíram em sistemas nervosos mais complexos”, completou o pesquisador.
Entender por que sentimos o frio com tanta intensidade é especialmente importante considerando que esse é um efeito percebido em pacientes durante o tratamento contra o câncer, sendo uma consequência da quimioterapia. A expectativa é que esse conhecimento, portanto, poderá ser aproveitado futuramente no desenvolvimento de formas de amenizar esse tipo de desconforto durante a terapia.