Ciência
08/12/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 08/12/2024 às 09:00
Os chimpanzés, nossos parentes mais próximos na árvore evolutiva, têm mais em comum conosco do que imaginávamos: eles também se saem melhor em tarefas complexas quando sabem que estão sendo observados. Essa descoberta surpreendente foi detalhada em um estudo recente no qual cientistas exploraram como o chamado "efeito plateia" — fenômeno em que a presença de um público altera o desempenho de alguém — se manifesta entre os grandes símios.
A pesquisa foi realizada na Universidade de Kyoto, no Japão, em um centro onde chimpanzés convivem regularmente com humanos e participam de experimentos interativos.
Durante seis anos, seis chimpanzés foram testados em desafios cognitivos usando telas sensíveis ao toque. As tarefas variavam de simples a extremamente difíceis: em uma delas, por exemplo, os primatas precisavam memorizar rapidamente a posição de números que desapareciam logo após o primeiro toque.
Os resultados foram claros: quanto mais pessoas assistiam, melhor os chimpanzés se saíam nas tarefas mais difíceis. Curiosamente, o oposto também foi verdade. Nas tarefas mais simples, a plateia parecia atrapalhar, reduzindo o desempenho dos animais.
Para os cientistas, isso sugere que o efeito plateia não é uma exclusividade humana, mas algo que talvez tenha raízes evolutivas mais profundas, possivelmente anteriores ao surgimento de sociedades baseadas em reputação.
Mas por que a presença de observadores teria esse impacto? No caso dos humanos, o efeito é frequentemente associado à necessidade de aprovação social ou ao desejo de impressionar. Entre os chimpanzés, que vivem em sociedades hierárquicas, uma explicação semelhante pode fazer sentido.
A presença de outros — sejam chimpanzés ou humanos — pode desencadear uma resposta adaptativa, talvez ligada ao valor social ou à percepção de status dentro do grupo. Isso reforça a ideia de que a sensibilidade ao olhar alheio não surgiu exclusivamente nas complexas sociedades humanas.
Outro detalhe curioso da pesquisa foi a influência dos observadores humanos. Embora pudesse se esperar que os chimpanzés não se importassem com outra espécie, eles pareceram responder ao público humano quase como fariam com seus próprios pares. Para os pesquisadores, isso pode estar ligado ao ambiente único do estudo, onde os chimpanzés frequentemente interagem e até criam laços com os humanos.
Entretanto, os cientistas ainda não têm respostas definitivas sobre os mecanismos neurológicos por trás dessas mudanças comportamentais. Eles reconhecem que há muito a ser explorado, tanto em primatas quanto em humanos. Estudos futuros podem ajudar a desvendar o que torna o efeito plateia tão universal — e como ele pode ter moldado o comportamento social em diferentes espécies.
A pesquisa também levanta questões interessantes sobre como encaramos nossa própria natureza. Se até os chimpanzés melhoram (ou tropeçam) sob os olhares atentos de uma audiência, talvez a pressão social seja um dos ingredientes fundamentais que ajudaram a moldar a evolução da inteligência e do comportamento colaborativo em primatas. Afinal, se brilhar sob os holofotes é algo que compartilhamos com eles, quem sabe o que mais ainda temos em comum?