Artes/cultura
15/01/2024 às 13:00•2 min de leitura
Quando alguém está com uma dúvida, é muito comum que apareça uma pessoa para dar uma recomendação: "vá pesquisar". Contudo, um novo estudo sugere que esse conselho, que se fundamenta na ideia do uso de métodos científicos, nem sempre é uma boa recomendação.
O problema é que, quando alguém resolve uma pesquisa, pode, ao invés de esclarecer a realidade dos fatos, cair no efeito contrário: sucumbir à desinformação. E a internet tem um grande papel nisso.
(Fonte: GettyImages)
Não há como negar: o método de pesquisa mais usado é a busca na internet. Só que esse é um método absolutamente falho por várias razões. Em alguns dos casos, não há informações disponíveis sobre uma determinada área, e a pessoa acaba preenchendo o chamado "vazio de dados" pela crença em teorias conspiratórias que estão disponíveis online.
Vejamos um exemplo: uma pessoa que buscar informações sobre uma tal fome planejada nos Estados Unidos, que supostamente teria sido causada como consequência da covid-19, irá se aproximar de teorias da conspiração. Se ela buscar por "fome arquitetada", o algoritmo a levará para fontes pouquíssimos confiáveis.
“A questão aqui é o que acontece quando as pessoas encontram um artigo online e não têm certeza se é verdadeiro ou falso. Elas procuram mais informações sobre o tema usando um mecanismo de busca”, afirma Joshua Tucker, diretor do Centro de Mídia Social e Política da NYU.
Tucker e seus colegas começaram a fazer experimentos para observar como as pessoas checavam as notícias que recebiam. Eles iniciaram essa pesquisa em 2019, com 3 mil participantes do mundo todo, que receberam a missão de avaliar a veracidade de artigos sobre o processo de impeachment de Trump, a vacinação contra a covid-19 e as alterações climáticas.
Alguns desses artigos eram reais e outros eram fake news. O resultado surpreendeu, pois mostrou que aqueles que foram solicitados a examinar os artigos por meio de pesquisas na internet tinham 19% mais probabilidade de classificar uma história falsa ou enganosa como verdadeira, em relação aos que não foram encorajados a fazê-lo.
O estudo seguiu sendo feito entre 2019 e 2021, e mostrou que 18% das pessoas que desconfiavam inicialmente de um artigo mudaram de opinião após fazerem uma pesquisa online. “Em cinco estudos, descobrimos que o ato de pesquisar online para avaliar notícias pode aumentar a crença na desinformação em quantidades mensuráveis”, escreveu a equipe no seu artigo.
Além disso, os pesquisadores acrescentaram: "ao usar dados de rastreamento digital, fornecemos evidências consistentes com a existência de vazios de dados, enquanto descobrimos que, quando os indivíduos pesquisam online sobre informações incorretas, são mais propensos a serem expostos a informações de qualidade inferior do que quando os indivíduos pesquisam informações verdadeiras".
(Fonte: GettyImages)
Por fim, os pesquisadores concluíram que quem está mais exposto às chamadas “informações de baixa qualidade” estará mais propenso a acreditar nas notícias falsas em relação àqueles que não têm essa exposição.
Para os autores, a desinformação causa efeitos heterogêneos nas pessoas, mas é preciso considerar que muitas pessoas têm chances maiores de serem prejudicadas por notícias falsas. Para elas, o ideal seria que elas tivessem algum tipo de letramento digital, antes de receberem a recomendação de fazer sua própria pesquisa.
"As quatro palavras mais perigosas são 'faça sua própria pesquisa'. Parece contra-intuitivo porque sou educador e incentivamos os alunos a fazer isso. O problema é que as pessoas não sabem como fazer isso", afirmou Chirag Shah, professor de ciência da informação na Universidade de Washington.