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23/07/2020 às 02:00•3 min de leitura
Você sabia que o livro The Jungle Book (O livro da selva, em português) que narra as aventuras de um menino chamado Mogli foi possivelmente inspirado em uma história real? O título foi publicado inicialmente em 1894 por Rudyard Kipling a partir de sete contos escritos por ele.
Dina Sanichar, também conhecido como "lobo indiano", foi o garoto selvagem que teria inspirado a criação das histórias. Dina viveu durante o século XIX e foi criado por lobos. No entanto, obviamente, a história real não possui tanta fantasia quanto o que foi retratado posteriormente na animação da Disney. A realidade foi bem trágica.
(Listopedia/Reprodução)
A história específica desse garoto ficou conhecida em 1872, quando ele foi achado — andando de quatro e seguindo um bando de lobos — por um grupo de caçadores no estado de Uttar Pradesh, na Índia. Há relatos de que ele tenha sido apenas uma das várias crianças selvagens que foram encontradas no país ao longo dos anos.
Ao visualizar aquela cena, os caçadores decidiram, de alguma forma, resgatá-lo daquela situação. O que eles presenciavam era algo chocante e absolutamente aterrorizante.
Quando o garoto e os lobos adentraram um esconderijo, eles resolveram atraí-los para fora do local; então, os caçadores atearam fogo na caverna em questão, fazendo com que os lobos e o garoto saíssem de lá rapidamente. A partir disso, mataram os lobos e capturaram o pequeno ser humano selvagem — na época, acreditava-se que ele tivesse apenas 6 anos.
O menino foi encaminhado a um abrigo para menores, onde recebeu o nome "Sanichar", que significa "sábado" em urdu (já que esse foi o suposto dia em que seu resgate aconteceu). No entanto, “domesticá-lo” não foi uma tarefa muito fácil. Sanichar não se comportava muito bem com a nova condição de vida e lutava muito. O "diagnóstico" do padre Erhardt, chefe do abrigo, constatou que o menino era extremamente "imbecil", mas ainda assim mostrava alguns pequenos sinais de razão e astúcia.
Talvez por esse motivo, o pequeno Sanichar nunca conseguiu aprender a falar, embora houvesse muitos esforços para que isso acontecesse. Consequentemente, o garoto também nunca aprendeu a ler ou escrever — ele se comunicava por meio de barulhos, assim como os animais haviam-lhe ensinado, e por muito tempo continuou andando de quatro.
(Wikimedia Commons/Reprodução)
Com o passar do tempo, Sanichar foi aprendendo a ter alguns hábitos mais humanizados, como andar usando apenas as duas pernas. No entanto, ele ainda lutava com relação ao uso de roupas e preferia ficar completamente nu. Quando chegou ao abrigo, ele não gostava de comer nenhuma das refeições que lhe eram entregues, já que estavam cozidas. Os hábitos selvagens continuaram durante muito tempo em sua vida. Há um relato, por exemplo, de que ele teria afiado seus dentes com pedras por diversas vezes.
Embora os traços humanos fossem poucos no garoto, ele conseguiu fazer um amigo. No abrigo, havia uma outra criança que também tinha sido descoberta enquanto era criada por animais. Como os dois não conseguiam entender muito bem a nova condição de vida que lhes foi imposta, isso os aproximou. Segundo o padre Erhardt, "um estranho vínculo de simpatia unia os dois meninos, e o mais velho ensinou o mais novo a beber em um copo".
Mesmo depois de 10 longos anos vivendo na companhia de outros humanos, Dina Sanichar continuava lutando contra as imposições que o abrigo lhe trazia. Seu desenvolvimento foi bastante anormal, já que, na adolescência, tinha apenas 1,5 metro de altura, dentes enormes e uma testa baixa.
Porém, conforme ia crescendo, alguns comportamentos foram sendo reproduzidos. Isso o levou, por exemplo, ao consumo de cigarros, que muitos acreditam ter sido a principal causa do desenvolvimento de sua tuberculose. Com a doença, ele faleceu em 1895, aos 29 anos.
(Wikimedia Commons/Reprodução)
Após a descoberta do caso de Sanichar, outras crianças selvagens começaram a ser encontradas com maior frequência na Índia. Um outro caso bem famoso é o das meninas Amala e Kamala, que foram resgatadas convivendo com um bando de lobos na década de 1920. Entretanto, também surgiram várias histórias falsas que mais tarde foram desmascaradas.
Com o passar do tempo, as histórias acabaram inspirando diversos artistas e escritores. Um deles foi o "pai" de Mogli, Rudyard Kipling. O autor, no entanto, nunca afirmou de maneira oficial que tinha se baseado na história de Dina Sanichar. No entanto, conforme alguns estudos foram desenvolvidos mais tarde, muitas semelhanças acabaram sendo encontradas entre o relato de Sanichar e Mogli.
A vida do menino selvagem da vida real é sem dúvidas bastante triste, pois claramente ele nunca quis ter sido resgatado da selva. Uma prova disso foi seu comportamento, que mostrou a sua não adequação ao mundo humano ao longo dos anos. Mesmo após ser resgatado, psicologicamente, Dina Sanichar permaneceu na floresta por toda a sua vida.