Jeffrey Dahmer: Transtornos que moldam um assassino

04/10/2022 às 02:004 min de leitura

Quando falamos de um serial killer canibal no estilo de Jeffrey Dahmer — retratado na série Dahmer: um canibal americano, da Netflix —, a primeira coisa na qual as pessoas é a psicopatia, o que não é o caso. Psicopatas tendem a buscar conexões significativas com os outros, já aqueles com impulsos canibais desenvolvem apegos extremos, assim como são mais inseguros e têm dificuldade em manter relacionamentos normais.

Ingerir a vítima é uma demonstração de poder absoluto e uma maneira de "eternizar" a vítima dentro dele, como se não fosse mais sair e estivesse fixada em seu interior. Isso tem relação com o abandono sofrido por ele, assim como a não aceitação das pessoas pelo seu jeito diferente, que causava estranheza. O apego extremo, devido a essa falta, pode se tornar desejo sexual por meio de fantasias.

Há possibilidades, também, de maus tratos por parte de seus pais, omitidos por eles à justiça. Na escola, Jeffrey buscava maneiras de chamar a atenção, mesmo que de forma bizarra — era um pedido de ajuda.

Perturbações psiquiátricas

a(Fonte: Netflix)

Analisando as perturbações que Jeffrey tinha, divulgadas por psiquiatras do caso, e que se tratavam de transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade esquizotípica e psicose, já podemos entender seu comportamento como mostrado na série.

Pessoas com transtorno de personalidade borderline têm a maneira como pensam e sentem sobre si mesmos e os outros afetada, causando problemas de autoimagem, dificuldade em gerenciar emoções e comportamentos e um padrão de relacionamentos instáveis.

O transtorno de personalidade esquizotípica é caracterizado por ansiedade social grave, transtorno do pensamento, ideação paranoide, desrealização, psicose transitória (ou não ansiada) e, muitas vezes, crenças não convencionais, além de extremo desconforto em manter e formar relacionamentos próximos, principalmente por achar que seus pares nutrem pensamentos negativos em relação a ele. Os transtornos psicóticos são transtornos mentais graves que causam pensamentos e percepções anormais.

Como tudo começa?

a(Fonte: Hollywood Forever TV)

Os acontecimentos ao longo de sua vida foram gatilhos desencadeadores. Já havia um precursor genético que, junto à má criação e acontecimentos em seu desenvolvimento, desencadearam o que hoje sabemos. É possível uma pessoa ter mais de um transtorno de maneira concomitante, bem como existe o transtorno misto de personalidade, onde a pessoa tem traços de diferentes distúrbios.

O que se pode afirmar é que ele tinha um desejo obsessivo por dominar, uma necessidade por controle e em possuir de forma permanente suas vítimas, tendo como ponto-chave a obsessão pela beleza física, uma espécie de conquista.

Jeffrey foi descrito como uma criança solitária e com o bizarro interesse por animais mortos e pela conservação de suas ossadas, tendo pedido ao pai para ensiná-lo a conservar os ossos. Também era viciado em bebidas e cigarros e tinha problemas em se enturmar.

Os impulsos canibais do serial killer podem ser explicados por apegos extremos, insegurança e dificuldade em manter relacionamentos. Como mencionei antes, ingerir partes da vítima é visto como uma forma de mantê-la dentro de si "eternamente". Sua mãe tinha histórico de depressão e de discussões com vizinhos e com o marido, tendo tentado se suicidar. Seu pai era ausente devido aos estudos na universidade.

E seu cérebro?

a(Fonte: Netflix)

O cérebro de Dahmer não pôde ser estudado, apesar de vários profissionais e sua própria mãe terem interesse, mas seu pai não permitiu. Baseando-me em estudos sobre assassinos, posso determinar a neuroanatomia para entender melhor o comportamento e os transtornos derivados.

Em teste de varredura cerebral (PET) de um controle normal comparado ao de um assassino, é vista a falta de ativação no córtex pré-frontal no serial killer. O funcionamento deficiente do córtex pré-frontal predispõe um indivíduo à violência de várias maneiras:

  • Em um nível neurofisiológico, o funcionamento pré-frontal reduzido pode resultar em perda de controle sobre estruturas subcorticais, como a amígdala, relacionada à origem de sentimentos agressivos;
  • Em um nível neurocomportamental, o dano pré-frontal tem sido associado a riscos, irresponsabilidades, quebra de regras, explosões emocionais e agressivas, e comportamento argumentativo — todos os quais geram predisposição a atos criminosos violentos;
  • Em se tratando da personalidade, o dano frontal em pacientes neurológicos está associado à impulsividade, perda de autocontrole, imaturidade, falta de tato, incapacidade de modificar e inibir o comportamento adequadamente e mau julgamento social. Estes, também, podem predispor à violência;
  • No nível social, a perda de flexibilidade intelectual, habilidades de resolução de problemas e capacidade reduzida de usar informações fornecidas por pistas verbais — todas resultantes de disfunção pré-frontal — podem prejudicar habilidades sociais essenciais para formular soluções não agressivas para encontros turbulentos.

O giro angular esquerdo, na junção das regiões temporal, parietal e occipital do cérebro apresenta redução da habilidade verbal em assassinos. Uma confirmação interessante dessa interpretação é que os déficits de aprendizado são anormalmente comuns em infratores violentos. Jeffrey é um exemplo disso — era um péssimo aluno.

Também foram encontrados em assassinos redução do funcionamento do corpo caloso — a faixa de fibras nervosas brancas de comunicação entre os hemisférios cerebrais esquerdo e direito. O hemisfério direito está envolvido na geração de emoção negativa. Em testes com ratos, o hemisfério esquerdo normalmente atua para inibir a tendência de matar do hemisfério direito.

Também é observado em assassinos um funcionamento incomum em regiões subcorticais, incluindo amígdala, hipocampo e tálamo. A amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal estão envolvidos no controle das emoções e juntamente com o tálamo, são fundamentais para a aprendizagem, memória e atenção.

As anormalidades na amígdala concordam com a teoria destemida da violência, uma vez que os ofensores têm reduzido a excitação autonômica. Os assassinos parecem ter recrutado a área visual do córtex occipital do cérebro para uma ação vigorosa para ajudá-los a realizar a tarefa visual, compensando assim seu mau funcionamento pré-frontal. A atividade subcortical excessiva pode predispor a um temperamento agressivo.

***

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é PhD em Neurociências, mestre em Psicologia, pós-graduado em Neuropsicologia entre outras pós-graduações, licenciado em Biologia e em História, tecnólogo em Antropologia, jornalista, especializado em programação Python, Inteligência Artificial e tem formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; membro ativo da Redilat; chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, cientista no Hospital Martin Dockweiler, e professor e investigador cientista na Universidad Santander.

Fonte
Imagem

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: