Ciência
30/11/2022 às 04:00•2 min de leitura
Em setembro de 1811, a escritora britânica Frances Burney precisou se submeter a uma mastectomia para o tratamento de um câncer de mama e escreveu sobre a dolorosa experiência.
Intitulada Relato de Paris de uma operação terrível, a carta é uma das primeiras descrições detalhadas de como era uma cirurgia antes da invenção da anestesia. O depoimento de Burney oferece uma visão detalhada sobre a dor física e psicológica que os pacientes precisavam enfrentar.
Tentando encontrar formas de diminuir a dor sem anestesia, diversos métodos foram testados. Alguns eram inofensivos e ineficazes, enquanto outros eram perigosos. Vamos conhecê-los?
A ingestão de álcool era bem comum. Os médicos embriagavam os pacientes até que eles não se importassem mais com a dor. O álcool também era usado como solvente em algumas poções sedativas que curandeiros tentavam criar.
Um exemplo é o máfèisàn, criada pelo cirurgião chines Hua Tuo no século II. Não se sabe qual era a receita exata da poção, mas se acredita que ela continha cannabis ou acônito, uma planta venenosa que pode ser fatal.
Poções que podem envenenar o paciente talvez não seja a melhor opção, assim como um forte golpe na cabeça também não é. Contudo, muitas vezes essa era a única forma de deixar o paciente inconsciente para a cirurgia. O método tinha boas intenções, mas podia causar traumatismo craniano.
Pressionar os nervos ou as artérias do pescoço para causar dormência e torpor também era uma técnica usada. A pressão nas artérias era menos comum por colocar a vida do paciente em risco ao obstruir o fluxo do sangue para o cérebro.
Hipnose era a opção menos perigosa e poderia ser eficaz, contudo são poucas as pessoas suscetíveis ao método.
Uma boa opção era contar com cirurgiões rápidos e habilidosos, como Robert Liston. Suas operações no início da década de 1840 eram conhecidas por serem rápidas, intensas e bem sucedidas.
A chance de morrer em uma cirurgia de amputação feita por Liston era de 1 a cada 6, uma estatística considerada um sucesso para a época. Do primeiro corte até a queda do membro a duração era de apenas 25 segundos.
As operações mais complicadas dependiam da anestesia não só para evitar a dor, mas também para relaxar os músculos e acessar órgãos internos. Isso começou a ser possível em meados do século XIX, quando surgiu o primeiro sedativo cientificamente comprovado: o éter dietílico.
Nessa época, o clorofórmio também entrou na cena, o que permitiu aos cirurgiões mais tempo para operar com calma.
Na década de 1850 um debate sobre os riscos e benefícios da anestesia começou a surgir. Alguns médicos acreditavam que a dor era necessária para o sucesso da operação.
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que foram desenvolvidas as drogas e fases usados hoje em dia. Por isso, a famosa afirmação de Harrop-Griffiths "de algo que matou dezenas de milhares [de pessoas], surgiram drogas que salvaram centenas de milhares".