Garotas em jejum: o fenômeno das mulheres que diziam não se alimentar

09/12/2022 às 04:002 min de leitura

Entre os séculos XVII e XX, algumas mulheres afirmavam conseguir ficar sem se alimentar por vários meses ou até anos. O caso, conhecido como garotas em jejum, se repetiu em vários lugares, principalmente na Europa, e inspirou o filme da Netflix O Milagre, protagonizado por Florence Pugh. Mas o que se sabe sobre essas mulheres e o que é real nessas histórias?

As verdadeiras garotas em jejum 

Ilustração de Sarah Jacobs em seu quarto. (Fonte: The Daily Mail)Ilustração de Sarah Jacobs em seu quarto. (Fonte: The Daily Mail)

Um dos primeiros casos conhecidos de uma mulher que afirmou ficar sem comer foi o de Jane Balan. Ela foi uma francesa que viveu entre os séculos XVI e XVII e alegou ter passado três anos sem comer ou beber. Como não há muitos registros sobre este caso, é difícil saber o que de fato ocorreu com ela e como ou quando a alimentação da jovem voltou à normalidade. O que se sabe é que a maioria dessas mulheres comiam escondidas. 

Outro caso foi o de Sarah Jacobs, uma menina galesa que afirmava não ter comido nada dos 10 aos 12 anos. Seu caso foi amplamente divulgado e muitas pessoas a visitavam porque acreditavam que ela era milagrosa. Com o passar do tempo, os médicos decidiram levá-la a um hospital em Londres, onde as enfermeiras não deviam negar comida caso Sarah pedisse. 

Embora ela não o tenha feito, os médicos perceberam que ela estava literalmente morrendo de fome. Os pais dela se recusaram a forçá-la a comer, alegando que aquela situação era normal. Sarah acabou, de fato, morrendo de fome e seus pais foram condenados por homicídio culposo e sentenciados a trabalhos forçados. Existiram outros casos em que os próprios médicos deixaram essas garotas morrerem em "nome da ciência".

Um distúrbio alimentar

Sir William Gull. (Fonte: History Collection)Sir William Gull. (Fonte: History Collection)

Durante anos, a maioria dos médicos classificou esses casos de garotas em jejum como “histeria feminina”. Eles acreditavam ser simplesmente insanidade e muitas dessas mulheres acabaram sendo internadas em manicômios. A primeira pessoa a considerar publicamente se tratar de um caso de anorexia foi Sir William Gull, o médico pessoal da Rainha Vitória.

Em 1873, ele publicou um artigo sobre uma condição médica que chamou de “anorexia nervosa”, e por muitos anos conseguiu ajudar pacientes, permitindo que as pessoas conseguissem voltar a um peso saudável. Seu "Método Maudsley" de tratamento ainda é usado com pacientes com anorexia.

Mesmo tendo sido identificado no século XIX, a doença continuou sendo considerada um distúrbio mental ou uma simples vaidade feminina por mais de cem anos. Somente em 1978, quando a psiquiatra Hilde Bruch publicou um livro chamado The Golden Cage: The Enigma of Anorexia Nervosa (A Gaiola Dourada: O Enigma da Anorexia Nervosa, em tradução livre), a anorexia passou a ser melhor compreendida e aceita como uma doença.

Além da anorexia nervosa, um outro diagnóstico também usado para explicar os casos das garotas em jejum é a “anorexia mirabilis” ou “anorexia sagrada”. A maioria destes casos aconteceram na Europa, durante a Idade Média, com freiras católicas. Em alguns casos, essas mulheres alegaram receber iluminação espiritual e que conseguiam se saciar em “banquetes com Deus”. Existem vários casos de freiras que realmente morreram de fome.

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