Artes/cultura
18/04/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 18/04/2024 às 08:00
Lidar com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pode ser bastante desafiador, mas da mesma forma que os tratamentos desenvolvidos representam um avanço significativo, a ciência segue em busca de compreender melhor como o transtorno se manifesta. Como resultado, já foram encontradas evidências que essa condição também apresenta nuances pouco exploradas e que podem ser eventualmente úteis no dia a dia.
Um estudo, publicado na Scientific Reports, em 2019, vai exatamente nessa direção. Crianças que tiveram pontuações mais altas em um questionário sobre sintomas de TDAH apresentaram um desempenho melhor em tarefas de busca semântica e, ao mesmo tempo, não tiveram prejuízo na pesquisa visual.
Essa constatação sugere que a condição não deve ser encarada como um déficit de atenção de forma isolada, mas que também indica que em determinados contextos, ela não oferece prejuízos como supomos, uma vez que promove uma percepção diferente em muitas pessoas. E um experimento conduzido recentemente pode se mostrar alinhado com essa hipótese.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia optaram por deixar 457 adultos se divertirem em um jogo. Para alguns, pode soar como um conceito bem diferente da palavra diversão, já que o game consistia em coletar alimentos — uma tarefa que no mundo real pode ser exaustiva. Mas para os primeiros humanos da história, era fundamental para a sobrevivência.
Para obter uma boa pontuação, era necessário coletar o máximo de frutas dos arbustos dentro de oito minutos. Os jogadores tinham a opção de continuar no mesmo campo ou migrar para outro local e perder parte do tempo disponível, isso mesmo sem a garantia de que teriam muitas frutas disponíveis para colher.
Após terminarem de jogar, os participantes ainda responderam a um questionário, cujo objetivo foi avaliar se algum sintoma de TDAH era percebido. Apesar de não estabelecer por si só um diagnóstico, ele permitia que os participantes compartilhassem suas eventuais dificuldades percebidas no dia a dia, a exemplo da dificuldade de se concentrar, que é bastante relatada.
O interessante é que, ao comparar as pontuações dos jogos com os resultados dos questionários, os estudiosos não puderam deixar de notar como aqueles que relataram sintomas de TDAH apresentaram um melhor desempenho no game.
Mais dispostos a migrarem de campo para explorá-lo e coletar frutas, esses participantes apresentaram uma média de 602 coletas em comparação com o outro grupo, com média de 521. Ou seja, o estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences sugere como essa fase de exploração de um determinado espaço seria encarada de uma forma diferente dentre as pessoas que apresentam os sintomas do TDAH.
A suspeita é que essa habilidade seja um traço evolutivo que se manifestou em nossos ancestrais que teriam genes associados ao TDAH, representando uma vantagem durante o forrageamento (exploração de um determinado local para obter alimentos). Mas ainda é cedo para chegar a qualquer conclusão, já que qualquer hipótese considerada precisa ser confirmada a partir de mais estudos.