Ciência
24/12/2020 às 03:00•3 min de leitura
O Natal é uma das festividades mais conhecidas atualmente, mas o que muitos podem não saber é que o feriado mais importante para o cristianismo incorporou elementos de diversas festividades pagãs, como uma comemoração do solstício de inverno dos povos da Era Viking, outras tribos germânicas e da Europa pré-cristã: o Yule.
O Yule foi mencionado pela primeira vez em 725 d.C. por Bede, um monge, cronista e historiador fundamental para a difusão do cristianismo no norte da Inglaterra. Ele era comemorado durante o solstício de inverno, quando a luz do dia diminui por um período e depois volta a aumentar de forma gradual, por volta dos meses de dezembro e janeiro, e este período era conhecido pelos pagãos como Yuletide.
Para os povos que viviam no extremo norte da Europa, o solstício era ainda mais impactante, então o retorno de dias mais ensolarados era considerado uma forma de renascimento, e o festival era chamado de geol, ou jól – que podem ser a base para a palavra inglesa jolly, que significa alegre.
Por muitos séculos, o Yule permaneceu desconhecido, até que um renascimento da cultura Viking no século XIX reascendeu as chamas da comemoração.
Suas cerimônias eram uma forma de homenagear os deuses mais importantes dos panteões nórdicos e germânicos, principalmente Odin, que também era conhecido como Jólnir, mostrando uma possível conexão com a festa.
O período que antecedia o Yule era considerado uma época de muita atividade sobrenatural para seus celebrantes, com mortos-vivos vagando pela Terra, uma caçada selvagem pelo céu noturno liderada pelo próprio Odin e até a crença de que a magia se tornava mais potente.
Para apaziguar estas criaturas, os povos da Era Viking e os godos davam como oferendas plantas, animais e bebidas, e, para afastar a escuridão, fogueiras eram acesas. Os antigos povos europeus também reverenciavam muito as árvores, colocando-as nos cantos de suas habitações e as decorando com pedaços de comida, runas, estátuas e tiras de tecido – ou seja, a versão ancestral de nossas conhecidas árvores de Natal.
Além disso, durante 3 a 12 dias de celebração, feixes de grãos eram moldados no formato do que era chamado de “cabras de Yule”, e jovens se fantasiavam e saiam dançando e cantando de casa em casa em troca de bebidas e alimento.
Ainda não se sabe se sacrifícios humanos realmente eram realizados durante o Yuletide ou se isso foi só um boato criado por cristãos para difamar as antigas religiões, porém vários relatos da festividade incluem o assassinato de jovens para expiar os crimes da humanidade na Terra.
Conforme os missionários cristãos passaram a se espalhar pelas áreas pagãs do norte europeu se viram com um desafio complexo: por mais que para eles o politeísmo fosse inaceitável, a perspectiva de forçar os orgulhosos e violentos povos da Era Viking a abandonar suas crenças não parecia muito divertida.
Então decidiram recorrer ao método da interpretação cristã, aprendendo mais sobre a cultura nórdica e traçando paralelos com o cristianismo, para que a conversão fosse mais suave até mesmo para aqueles que relutavam a renunciar a seus costumes centenários.
Uma das táticas foi mudar a data do nascimento de Jesus, que provavelmente ocorreu na primavera, para combinar com as celebrações pagãs de inverno. Outra figura importante para a vinculação do Natal e o Yule foi o rei norueguês Haakon, que tentou converter sua nação inteira à religião cristã no século 10 d.C. e decretou que a festividade passaria a ser comemorada no dia 25 de dezembro, sendo comemorada por seus cidadãos com um belo suprimento de cerveja para evitar multas altíssimas.
Depois que o rei morreu em batalha, as tradições pagãs foram retomadas por um tempo, mas os efeitos das leis reais eram mais fortes e a comemoração pagã e cristã passaram a ser vistas como uma só.
Com o declínio da imposição católica pelo Estado, o Yuletide renasceu de uma forma renovada através das religiões neopagãs da Europa e América do Norte, celebrando a natureza, as estações, estrelas e suas raízes ancestrais.
Porém, moderno ou ancestral, as tradições desta celebração do solstício de inverno nunca desapareceram por completo, e sem elas, não teríamos o Natal como conhecemos atualmente.