Ciência
24/04/2021 às 09:00•3 min de leitura
Na matéria sobre os povos indígenas que publicamos aqui no Mega no Dia do Índio (19 de abril), uma coisa ficou bem clara: são muitos povos! Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são mais de 300 grupos diferentes, cada um deles com a sua cultura, costumes, rituais, etc. Pensar nos indígenas como um grupo homogêneo é, no mínimo, um erro. Isso também vale para os idiomas.
Pois é, se você imaginava que todos os indígenas falavam o tupi, você vai se surpreender com essa lista. Para começar, saiba que existem mais de 150 idiomas indígenas sendo falados no Brasil, nesse momento. Confira a seguir, cinco curiosidades sobre eles!
Isso porque a contagem depende da definição entre o que é um idioma e o que é um dialeto. Guardadas as devidas proporções, é claro, pense no português e no espanhol: eles são parecidos, mas são considerados línguas diferentes, enquanto o português BR e o de Portugal (ou as infinitas variações regionais do Brasil), são dialetos.
Algo parecido ocorre com os idiomas indígenas: para alguns especialistas, o guarani é um idioma com vários dialetos. Porém, para outros, guarani-kaiowá, guarani-nhandeva, guarani-mbya são línguas distintas. O mesmo acontece com outros povos indígenas. Conforme o Censo do IBGE, há 274 idiomas indígenas no Brasil.
Fonte: Segredos do Mundo/R7
Voltando ao exemplo do português e do espanhol, nós conseguimos entender nossos vizinhos argentinos ou paraguaios com um bom 'portunhol', né? O mesmo acontece com diversos idiomas indígenas: muitos deles são compreensíveis entre si.
Mas isso não quer dizer que todas as línguas indígenas são parecidas. Pelo contrário! Há dois troncos linguísticos principais entre os nativos do Brasil: o tupi e o macro-jê. Os idiomas que fazem parte deles são totalmente distintos e ainda existem outros que não podem ser encaixados em nenhum dos dois.
Para você ter ideia do que isso significa, o português faz parte do tronco indo-europeu, na família das "latinas" (com espanhol, francês, italiano...). O alemão e o inglês também estão nesse, mas na família germânica. E são todas línguas bem diferentes, né?
Fonte: Wikimedia Commons
Entre as centenas de idiomas indígenas do Brasil, há várias línguas isoladas — isto é, que não possuem semelhanças com nenhuma outra família linguística, nem mesmo com outras entre as indígenas.
Um exemplo disso é a tikuna, falada por cerca de 34 mil pessoas. Ela é uma língua tonal, em que o tom de cada sílaba pode mudar dramaticamente o significado de uma palavra. Das línguas mais faladas no mundo, uma das poucas que são tonais é o mandarim, em que "ma" pode ser "mãe", "cavalo" ou um insulto, dependendo do tom dado à sílaba.
Já o pirahã, falado por um povo no sul do Amazonas, é um idioma tão interessante que renderia um artigo por si só. Para começo de conversa, há apenas três vogais e oito consoantes, não há palavras para números ou cores e não há verbos no passado ou futuro. Quer mais? Além de falar, os pirahãs podem se comunicar apenas com assovios, o que é muito útil para os homens caçarem na selva.
Fonte: Povos Indígenas Brasileiros
Segundo o Censo mais recente, de 2010, o idioma indígena com mais falantes no Brasil é o tikuna, que mencionamos anteriormente. Depois vem o guarani kaiowá (com 26 mil falantes), kaingang (22 mil), xavante (13,3 mil) e yanomami (12 mil). Alguns deles, como o próprio guarani-kaiowá, são falados por indígenas de outros países vizinhos.
Além disso, é interessante observar que muitos indígenas são poliglotas. Para começar, porque há um grande número que fala o português, além de sua língua nativa.
Além disso, há multilinguismo entre as tribos, com povos que falam as línguas uns dos outros para poder se comunicar. Na Amazônia, há o nheengatu, língua franca usada por vários povos que têm seu idioma dentro da própria tribo, mas que usam nheengatu para falar com outras. Quase como um nativo do português usando o inglês para viajar.
Fonte: Agência Brasil
De modo geral, as línguas indígenas são de tradição oral, sem muitos registros escritos. Assim, quando as pessoas param de falar a língua, ela morre.
Isso já ocorreu com muitas línguas cujas tribos foram dizimadas ou seus falantes foram integrados a outros povos. Mas também está acontecendo agora com outros idiomas cujas crianças são educadas falando português. Para que essa riqueza e variedade não se percam, é essencial valorizar as culturas indígenas.