Ciência
20/10/2021 às 08:00•2 min de leitura
Para muitas pessoas, usar a palavra índio para se referir aos habitantes que já estavam nas Américas antes da chegada dos europeus é algo questionável. Afinal, essa denominação surgiu, originalmente, com base em um erro.
(Fonte: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Reprodução)
A história é que em 1492, o navegador Cristóvão Colombo e os tripulantes que viajavam com ele acreditaram estar chegando na Índia, por isso chamaram os nativos do continente americano de índios. Com o passar do tempo, o termo começou a ser associado a conceitos negativos e preconceituosos.
Quando usamos a palavra “índio” estamos, mesmo que sem querer, reproduzindo valores históricos antiquados baseados no pensamento que os europeus tinham (ou têm) de superioridade universal sobre valores culturais, morais, econômicos e políticos, entre outros, em relação aos demais povos.
(Fonte: Blog Enem/Reprodução)
Para Daniel Munduruku, escritor indígena e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, apesar de o senso comum sugerir que índio e indígena tenham alguma relação direta, ela não existe.
Segundo ele, “índio” nada mais é que um apelido dado pelos europeus aos povos encontrados nas Américas como uma maneira de dizer que eles eram diferentes, sendo essa diferença algo negativo.
Não somente isso: o termo é preconceituoso e pejorativo, pois, além de criar uma figura estereotipada dos nativos das Américas, a palavra índio, ao longo da história, foi e continua sendo associada a uma série de preconceitos, como aqueles que colocam esses grupos étnicos como um estorvo para o resto do mundo ou os definem como canibais, preguiçosos, atrasados, gordos e selvagens, apenas para citar alguns exemplos.
Por outro lado, usar o termo “indígena” é mais interessante, visto que sua definição abrange conceitos como “nativo” e “original do lugar”. Além disso, considera as particularidades de cada comunidade, evidenciando sua cultura.
A palavra “tribo”, que também é constantemente usada para identificar os povos indígenas, é problemática, pois, assim como “índio”, faz uma associação com aquilo que é primitivo, ou ainda, sugere que os nativos são grupos que não conseguem viver e se desenvolver sem a intervenção do estado.
É interessante observar que na base de tudo isso está a lógica do poder baseada nos valores coloniais, ou seja, na lógica da dominação em que um grupo supostamente é superior a outro.
Quando falamos sobre pessoas ou povos nativos, o melhor a se fazer é usar a terminologia que os integrantes daquela comunidade usam para se descreverem coletivamente. Por exemplo, no Canadá há grupos que preferem expressões como “primeiros povos” ou “primeiras nações”. Nos EUA, “nativo-americano” ou “indígena”.
(Fonte: Cultura Mix/Ceert/Reprodução)
Também há casos ainda mais específicos, como os povos Aleut, Yup’ik e Inuit, no Ártico, que se consideram culturalmente separados dos indígenas.
Em algumas regiões da América do Sul e Central, a tradução direta da palavra “índio” ainda pode ter conotações negativas. Como resultado, em países como o Brasil, Peru e Chile, a preferência fica com a palavra “indígena”, “povo” ou “comunidade”. O ideal é replicar a terminologia usada por esses grupos e procurar saber quais outros termos eles preferem.
Por fim, vale lembrar que reconhecer a diversidade de línguas, tradições e culturas dos povos indígenas das Américas é essencial para o processo de compreensão.
Afinal, quando aprendemos sobre uma comunidade em particular, também aprenderemos a empregar termos mais precisos e específicos relacionados a ela. Dessa forma, evitaremos estereótipos e encorajaremos a compreensão cultural.