Guaracy Silveira, o político evangélico mais inovador do Brasil

02/01/2022 às 09:302 min de leitura

É comum ver embates em Brasília entre políticos que defendem um Estado laico — aquele em que não há interferência das correntes religiosas nos assuntos estatais — e os que defendem que a Constituição e a Bíblia precisam caminhar lado a lado.

Contudo, bem antes da chamada "bancada evangélica", a Câmara Federal contou com um político de fé evangélica que defendia a laicidade do Estado. Estamos falando de Guaracy Silveira, pastor da Igreja Metodista que foi eleito à Assembleia Nacional Constituinte — responsável pela Constituição de 1934 — a primeira realizada após a chegada de Getúlio Vargas ao poder.

(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)

Oriundo de uma família rica que empobreceu, Guaracy estudou para ser padre, tornando-se pastor protestante, chegou ao legislativo federal, além de atuar como jornalista e poeta. Relatos o descrevem como um político liberal tradicional, defensor da autonomia religiosa, mas que compreendia a importância do papel do trabalhador na economia brasileira.

Um político diferente

Silveira tinha forte interesse pela investigação histórica, tanto que investiu em pesquisar sua ancestralidade, de forma a compor um retrato de quem era. Foi aí que compreendeu o papel anticlerical de sua família.

(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)

Apesar de todo seu histórico progressista, chegou a ser expulso do Partido Socialista Brasileiro (PSB) acusado de pertencer a uma corrente contrária à marxista, ala que liderava o partido na época. O próprio Silveira se denominava protestante liberal e socialista, e foi essa parcela liberal que o colocou em choque com a ala marxista do PSB, a ponto de ser expulso.

Contudo, sua postura ia na contramão do que se espera da imagem que construímos de um liberal no Brasil, sendo: contrário à inclusão de declaração de confiança em Deus na Constituição e ao Ensino Religioso nas escolas públicas; defendeu o direito feminino ao voto e à participação eleitoral; defendeu o controle estatal sobre lucros abusivos e a regulamentação do divórcio.

Ao fim de seu mandato como constituinte, chegou a concorrer novamente, no entanto, sem ser eleito. Passou os próximos anos exercendo, majoritariamente, cargos dentro da Igreja Metodista, até auxiliar nas articulações para a formação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ocorrido em 1945.

Estado Laico vs. religião

Com a deposição de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo em 1945, Silveira concorreu novamente ao cargo de deputado constituinte, já por seu novo partido. Dessa vez, foi eleito, tomando posse em fevereiro de 1946 e integrando a comissão encarregada de organizar o projeto de uma nova Carta Magna.

Ainda nessa época, era incomum a participação ativa de pessoas com forte ligação às correntes religiosas. Mesmo a imprensa pouco falava sobre o trabalho de políticos com esse tipo de conexão. O trabalho de Silveira, por exemplo, aparece de modo mais preponderante no Jornal Batista, em 1946, em um editorial. Segundo o deputado, evangélicos como ele temiam participar da luta político-partidária ou mesmo em sindicatos por receio de terem sua fé questionada e, consequentemente, perderem espaço em suas congregações.

(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)(Fonte: Acerto Expositor Cristão/Reprodução)

Seu segundo mandato ficou marcado ainda mais pela defesa de pautas progressistas libertárias. Silveira integrou a Subcomissão da Família, Educação e Cultura, tendo, em 1948, votado contra a cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas, cujo partido havia tido seu registro suspenso no ano anterior.

Nesse mesmo ano, foi um dos fundadores do Partido Republicano Trabalhista (PRT), partido que defendia os trabalhadores e seus interesses. Seu mandato findou em janeiro de 1951 e, a partir dali, nunca mais retornou à Câmara Federal. Ele morreu 2 anos depois, aos 60 anos, defendendo até o fim a separação entre Estado e religião, além de ter impulsionado a união trabalhista.

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