Cultura Moche: conheça as bizarras estátuas de culto à fertilidade

06/01/2022 às 09:003 min de leitura

A história sobre a estátua colocada durante o Ano Novo no distrito de Moche, na província peruana de Trujillo, dominou as notícias nesta semana. Cesar Arturo Fernandez, prefeito do distrito, instalou uma estátua de três metros de altura de um huaco — vasos de barro e outras obras de cerâmica dos povos indígenas das Américas, muito comuns em cemitérios e templos antigos.

A estátua causou polêmica porque apresenta um pênis gigante — que representaria a fé em Deus — e rapidamente tomou conta da internet. O prefeito a instalou com o intuito de transformá-la em ponto turístico e já anunciou que outras serão colocadas pelo distrito.

A cultura mochica

(Fonte: Hypeness)(Fonte: Hypeness)

A cultura Moche é anterior aos Incas. Ainda que sem constituir um Estado ou Império, sua unidade cultural é bem definida. Ela se estabeleceu na costa norte do Peru, entre 100 e 800 d.C., e se desenvolveu na região árida entre os Andes e o Pacífico, onde hoje está Trujillo, cerca de 560 quilômetros distante da capital Lima.

A maior expressão artística dessa cultura foi a cerâmica, cujas obras são consideradas as mais proeminentes do Peru pré-hispânico, tendo superado os Incas neste quesito. Infelizmente, os mochicas deixaram poucas pistas de sua existência, mas sabe-se que, como não tinham escrita, relatavam o cotidiano e a mitologia em murais e através das peças de cerâmica.

As peças eram objeto de comercialização e influência, chegando a ser exportadas e copiadas em outras localidades. As mais famosas são as que reproduzem o ato sexual e os objetos fálicos, suscitando todo tipo de interpretação, inclusive a de que celebravam o milagre da vida.

Huacos eram parte de ritual de sacrifício ao deus Ai Apaec

(Fonte: Aventuras na História)(Fonte: Aventuras na História)

Por todo o Peru você pode encontrar estas peças de cerâmica, e não apenas na província de Trujillo. Existem centenas de peças mostrando corpos entrelaçados, agarrados uns aos outros, expondo sua intimidade. Mas a realidade é que estas cerâmicas não carregam nada de erótico.

Para aquela sociedade, forjada no fazer agrícola, o sexo estava relacionado à fertilidade da terra. Isso, talvez, explique porque os ceramistas mochicas modelavam as esculturas com órgãos genitais sem se esforçar em refletir prazer.

Em entrevista à BBC, o arqueólogo Walter Alva afirmou que, para a cultura mochica, que floresceu em uma área extremamente seca — das mais secas do planeta — o sexo era o princípio da vida. Logo, ao retrata-lo queriam, de alguma forma, prestar homenagem ao deus que cultuavam, o Ai Apaec, em uma tentativa de que ele retribuísse essa homenagem com a fertilidade do solo. Ao que tudo indica, essa homenagem seria acompanhada de algum sacrifício.

Peças refletem o círculo da vida

(Fonte: Aventuras na História)(Fonte: Aventuras na História)

Na região de Trujillo foram encontradas cerca de 45 mil peças feitas de cerâmica, todas em tumbas, de acordo com Andrés Álvarez Calderón, diretor do Museu Larco, em Lima. Esses huacos eróticos correspondem a menos de 1% do total e seriam oferendas que refletiriam o círculo da vida, e não eram usadas no dia a dia dos moche.

O sexo dos huacos seria uma maneira de atrair a chuva para seus campos desérticos. Já colocá-las nos cemitérios visava propiciar a fecundidade do campo. Ainda que não tenha conotação sexual, estes huacos certamente refletem o erotismo da cultura mochica, além do domínio que tinham do corpo e do ato de amar.

Chuva para plantar e seca para não inundar

(Fonte: Museu Larco)(Fonte: Museu Larco)

As cenas que demonstram sexo reprodutivo tinham o objetivo de invocar chuva, enquanto as não reprodutivas (como as de masturbação ou sexo oral, por exemplo) poderiam representar a súplica pela chegada da seca.

Além disso, estudos sugerem que o fenômeno El Niño tenha destruído todo o sistema de irrigação deles. Este desastre teria feito o povo mochica perder a confiança nas autoridades políticas e religiosas, fazendo com que abraçassem outras culturas, inclusive deixando de ver no sexo uma forma de falar com seus deuses.

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