Ciência
25/02/2022 às 11:00•2 min de leitura
A captura de usina de Chernobyl, efetuada durante a invasão russa ao território ucraniano, tornou-se símbolo de um tenso conflito ocorrido no leste europeu. Desativada desde o início dos anos 2000 como resultado de um dos maiores desastres radioativos da Europa, a instalação protagoniza uma série de dúvidas entre especialistas e militares. Por que as tropas de Putin decidiram ocupar um local marcado por falhas e destruição?
De acordo com fontes da Reuters, Moscou não fez nenhum comentário oficial sobre suas intenções a invasão à usina. Porém, membros da segurança russa garantem que a iniciativa planeja sinalizar à OTAN para não interferir militarmente, utilizando conceitos geográficos para facilitar a entrada de militares russos no país vizinho, visto que Chernobyl está localizada na rota mais curta da Bielorrússia para a capital da Ucrânia, Kiev.
O embaixador da Ucrânia no Reino Unido, Vadym Prystaiko, disse que Chernobyl foi atacada após ser identificada como um "ponto fraco" nas defesas da Ucrânia, servindo como terreno vantajoso de estabelecimento para as tropas invasoras. "Esta zona não é protegida porque há radiação, ninguém mora lá", disse ele. "Eles agora passaram por esta parte desprotegida de nossas fronteiras através do território russo."
(Fonte: Reuters / Reprodução)
"Parece que [Putin] está ameaçando qualquer nação que possa tentar apoiar a Ucrânia", disse Julie Bishop, ex-ministra das Relações Exteriores da Austrália. "A captura de Chernobyl não faz sentido, a menos que Putin esteja tentando alertar o mundo que a Rússia é uma potência nuclear."
Hoje, Chernobyl está localizada no que os ucranianos chama de "zona de exclusão". Esse território, situado em uma área remota e distante da população geral, apresentaria menos riscos do que se comparado ao restante das usinas nucleares no país, mas a radioatividade elevada — 65 µSv acima do normal — pode significar sérias ameaças caso haja um conflito nas dependências da instalação desativada.
Dessa forma, estima-se que os próprios russos tenham se deslocado à Chernobyl não para consolidarem posto de batalha, mas para evitar que desastres de maiores proporções possam ocorrer à região. Alexey Muraviev, especialista em segurança nacional e estratégia da Universidade Curtin, Austrália, acredita que houve um instinto protetor por parte do exército de Putin e que eles querem garantir a defesa das salvaguardas nucleares.
The first video from the captured Chernobyl nuclear power plant. Ukraine's PM Shmyhal has confirmed that the exclusion zone and all the NPP facilities have come under the control of the Russian forces. pic.twitter.com/D1da62UiRV
— Tadeusz Giczan ???? (@TadeuszGiczan) February 24, 2022
"O primeiro vídeo da usina nuclear de Chernobyl capturada. O primeiro-ministro da Ucrânia Shmyhal confirmou que a zona de exclusão e todas as instalações da NPP estão sob o controle das forças russas."
"Além disso, eles não darão aos ucranianos uma oportunidade potencial de explodir o reator danificado número quatro, que explodiu em abril de 1986, como um ato de dissuasão defensiva na forma de contaminar as áreas para deter o rápido avanço do militares russos", completa Muraviev.
A usina que dizimou 30 trabalhadores em poucas semanas e gerou até 93 mil mortes adicionais por câncer em todo o mundo, com a destruição do reator em 1986, "é um trampolim para Kiev". Tendo isso em mente, cabe imaginar que o domínio de Chernobyl integra um controle capaz de apoiar o avanço de russos, especialmente por conta do país de Putin já possuir armas nucleares em massa — cerca de 6,4 mil posses destrutivas.
A parte centro-norte da Ucrânia atende às suas necessidades de eletricidade através das usinas nucleares de Rivne, Zaporizhzhia e Khmelnytskyi, segundo Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Enquanto isso, Chernobyl continua sendo um terreno para o depósito de resíduos nucleares e radioativos, sem qualquer função gerencial desde os anos 1990.