Artes/cultura
20/04/2022 às 06:46•3 min de leitura
A festa do Carnaval não surgiu no Brasil. Há precursores desta grande celebração já nas festas do Egito Antigo, nos rituais dedicados a Dionísio, na Grécia, e a Baco, em Roma, e nos bailes de rua de Veneza na época renascentista. Mas uma coisa é verdade: é apenas no Brasil que a chamada "festa da carne" encontrou a sua verdadeira casa.
O Carnaval é uma festa que, para o cristianismo, antecede a quaresma. Seria, portanto, um período de celebração e hedonismo que nos "prepara" para as restrições que se seguem nos próximos quarenta dias após a Quarta-Feira de Cinzas. E talvez nada represente tão bem o espírito desta festa quanto a forma pela qual ela se desenvolveu no Rio de Janeiro, com a criação das chamadas Escolas de Samba.
(Fonte: O Globo/ Reprodução)
Até o começo do século XX, o Rio de Janeiro realizava um Carnaval que seria hoje considerado bem-comportado. Era uma festa dedicada à classe trabalhadora, que reunia brasileiros e imigrantes (como os ciganos, os afro-brasileiros, os judeus, os russos) que tocavam os ritmos de sua terra nesses dias. Estes povos, quando vieram para o Brasil e se fixaram no Rio, foram morar em regiões periféricas da cidade, como os estaleiros, instalados próximos aos morros.
Estas regiões portuárias passaram a ser chamadas de Pequena África depois que o comércio de escravos se tornou ilegal, em 1831. Com o tempo, os escravos libertos permaneceram morando no local. A influência da população negra e a mistura com os ritmos de outros imigrantes ajudaram que dali surgisse o samba - que misturava passos de dança vindos da Bahia e os movimentos presentes nos rituais do Candomblé.
O samba passaria a ser associado ao Carnaval em 1917, com o sucesso de "Pelo Telefone", a música de Donga e Mauro de Almeida que ficou conhecida como "o primeiro samba" (embora, de fato, não tenha sido a primeira música do gênero, e sim a primeira a ficar famosa).
Aos poucos, o ritmo começou a se popularizar - o que significava que passou a circular entre as camadas mais pobres da população. Um dos pontos onde se tornou muito forte foi no bairro do Estácio. Foi lá que, na década de 1920, um grupo formado por Ismael Silva, Bide e Nilton Bastos criou um novo ritmo para o samba, com uma nova cadência, que seria mais apropriado para acompanhar os desfiles na rua. O ritmo logo se espalharia e alcançaria outros morros, como os da Mangueira e do Salgueiro.
(Fonte: O Globo/ Reprodução)
A primeira escola de samba (que ainda era chamada de bloco, e não de escola) surgiu em 1928, no Estácio, e se chamava Deixa Falar. A ideia, surgida com o cantor Ismael Silva, era de fazer um bloco carnavalesco em que os participantes fossem "evoluindo" ao ritmo do samba.
Em 1932, aconteceria o primeiro desfile oficial das escolas de samba do Rio de Janeiro. Foi organizado pelo jornalista Mario Filho, que dá nome ao estádio Maracanã e era irmão do cronista Nelson Rodrigues. Ele ocorreu na Praça 11 e reuniu 19 grupos, que foram avaliados por conta de critérios de julgamento como o samba inédito, a ala das baianas, a presença de mais de cem componentes e a ausência de instrumentos de sopro. Quem venceu este primeiro concurso foi a Mangueira.
Uma curiosidade desta época é que a ala das baianas era formada por homens, que vinham armados de canivetes para defender a escola em caso de brigas. A princípio, não havia conexão entre a música, o enredo e o desfile. Esta prática foi inaugurada pela Portela em 1939, quando o enredo "Teste ao Samba" propôs unificar a letra do samba e a performance na avenida.
Em 2022, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro completa 90 anos de existência. Neste período, as maiores campeãs do concurso são a Portela, com 22 vitórias, e a Mangueira, com 20.
(Fonte: G1/ Divulgação)
No quesito Carnaval, São Paulo foi influenciado pelo Rio de Janeiro: as transmissões radiofônicas dos desfiles no Rio teria estimulado o nascimento das primeiras agremiações de samba na terra da garoa. Em 1935, nasce a primeira escola de samba paulista, a Primeira de São Paulo, que se situava no bairro da Pompeia.
Em 1937, uma mulher, conhecida como Madrinha Eunice, criaria a escola de samba Lavapés, localizada no bairro da Liberdade, e que configura hoje com a escola mais antiga que permanece em atividade - ainda que não esteja mais entre os grupos de elite. Em seguida, surgiram outras como a Vai-Vai, Nenê da Vila Matilde e Peruche.
Uma característica interessante do carnaval paulista é a associação entre as escolas de samba e os times de futebol. Isso se iniciou nas décadas de 1970 e 1980, com o surgimento de entidades como a Gaviões da Fiel, do Corinthians, e a Mancha Verde, do Palmeiras.