Ciência
27/06/2022 às 06:30•2 min de leitura
Conta a Bíblia que, na sua última ceia antes de sua morte, Jesus Cristo teria bebido vinho e comido pão ao lado de seus apóstolos. Esta cena já fez muita gente se indagar: qual seria o vinho que eles beberam neste momento?
Vale dizer que o vinho, dentro do cristianismo, tem forte valor simbólico. Ele aponta ao sangue de Cristo, da mesma forma que o pão significa o seu corpo. Os dois alimentos aparecem em vários trechos da Bíblia. Em Provérbios, por exemplo, lemos: “o vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio”.
Foi o consumo de vinho e pão na última ceia, aliás, que deu origem ao rito católico da comunhão. Vejamos o que sabemos sobre este momento muito significativo aos cristãos.
(Fonte: Crush Pixel)
Alguns estudiosos já fizeram considerações sobre como seria o vinho consumido por Jesus e seus apóstolos nesta refeição tão famosa. Na verdade, sabe-se pouco sobre quais as uvas que existiam nesta época, mas documenta-se que já havia conhecimento sobre alguns processos de vinificação.
O Oriente Médio, inclusive, já produzia vinhos pelo menos desde 4000 a.C. Há evidências arqueológicas de que os vinicultores desta época cultivavam suas videiras pelas encostas e esculpiam prensas de vinho, além de servi-lo em recipientes de cerâmica.
O sabor do vinho provavelmente era muito intenso. Embora houvesse uma prática de diluição do vinho, "em Jerusalém, eles tinham um gosto especial por vinhos ricos e concentrados", explica o arqueólogo Patrick McGovern, professor do Museu de Arqueologia da Universidade da Pensilvânia.
Era comum também misturar o vinho com especiarias e frutas. O uso de resina de árvores, como mirra, incenso e terebintina, era bastante comum, pois evitava que o vinho se deteriorasse. Havia ainda o hábito de misturar romãs, açafrão, canela e mandrágora para melhorar o seu sabor.
(Fonte: Vivino)
Alguém pode estar se perguntando: existe algum vinho parecido com o que Jesus tomou na última ceia? Há também quem se propôs a encontrar similares modernos deste vinho sagrado.
Patrick McGovern afirma que o vinho provavelmente lembrava um Amarone, estilo produzido na Itália com uvas Corvina, Corvinone, Rondinella e Molinara. Sua característica é ser doce, rico e escuro, parecido com os que eram apreciados na Terra Santa.
A indicação de que o vinho era intenso aparece na literatura que sobreviveu a esta época, que conta que a bebida presente na Transjordânia era tão forte que "induzia o corpo a pecar".
O pesquisador Guy Bar-Oz, do Instituto Zinman de Arqueologia da Universidade de Haifa de Israel, também analisou o DNA restante em sementes de uva para saber mais sobre as técnicas de vinificação usadas na época. A hipótese levantada por ele confirma o que foi verificado por McGovern: que muito provavelmente, por conta das características do solo, tratava-se de um vinho encorpado e doce, com altas quantidades de açúcar.