Artes/cultura
06/07/2022 às 07:00•3 min de leitura
Não existe na história da humanidade outro acidente nuclear que tenha sido tão devastador quanto o de Chernobyl. Os livros de história narram este capítulo aterrador da antiga União Soviética, assim como muitos filmes e documentários fizeram sua parte em retratar esse momento ímpar da corrida nuclear.
Depois da minissérie Chernobyl, a HBO apresenta um novo produto, o documentário Chernobyl: The Lost Tapes, com cenas reais e raras dos desdobramentos após a explosão do reator. O projeto dá novos contornos e traz revelações perturbadoras sobre os momentos seguintes ao acidente. Confira algumas delas.
Quem assistiu à minissérie da HBO Chernobyl deve se lembrar da personagem Lyudmila Ignatenko, mulher que estava grávida de um bombeiro, uma das primeiras vítimas do incêndio. Vasily, seu falecido marido, foi um dos homens que tentou evitar que outro reator explodisse, mas acabou exposto a uma enorme radiação.
Ele ficou internado na Instituição Número Seis, um hospital de referência em Moscou e lá passou seus últimos dias. Lyudimila acompanhou todo o tormento do marido. O bebê que ela esperava nasceu dois meses após a morte do companheiro, mas não resistiu e também partiu dias após o parto.
Lyudimila foi uma das grandes responsáveis por fazer a HBO levar o projeto da série adiante, mas optou por ficar fora dos holofotes quando o sucesso bateu à porta. Em The Lost Tapes, sua voz é uma das que conduz o espectador pelo caminho do horror que foram os dias que se seguiram ao pior acidente nuclear da história da humanidade.
(Fonte: HBO/Divulgação)
Uma das grandes tristezas quando se pensa no acidente diz respeito à vida das pessoas, mas em especial a das crianças. Chernobyl: The Lost Tapes também lança olhar sobre este aspecto, mostrando alas de maternidades e bebês que nasceram com defeitos congênitos causados pela radiação.
Há, também, espaço para se ver o resultado de pesquisas conduzidas ao longo dos primeiros anos com crianças nascidas antes e depois do acidente na usina nuclear. Nota-se como as pessoas sofreram o peso de terem sido contaminadas com radiação e as dificuldades trazidas para suas vidas em virtude disso. Um dos dados mais desoladores revelados pelo filme.
Como é sabido hoje, o governo soviético fez de tudo para tentar apagar o fracasso das medidas de contenção do acidade em Chernobyl, eliminando provas, prendendo pessoas e ameaçando quem fosse necessário.
O documentário da HBO mostra as primeiras medidas de Gorbachev, sua visita à cidade para responder perguntas dos trabalhadores, a relação de desconfiança gerada entre a população local e as lideranças e outros atos que ajudaram a levar a URSS ao colapso. Ou que foram sintoma de que esse momento já havia sido ultrapassado.
(Fonte: HBO/Divulgação)
Os liquidadores eram as pessoas que recebiam a tarefa quase mortal de remover o material radioativo que havia sido deixado para trás, em especial o grafite. Essa missão ingrata é retratada na minissérie Chernobyl, mas fica ainda mais evidente no novo documentário, com sequências de filmagens mostrando as cenas destes homens trabalhando.
A remoção do grafite era feita de maneira apressada, com muitos dos liquidadores nervosos, talvez nem mesmo cientes do perigo que aquilo representava. Ainda que nada horripilante seja mostrado na tela, é o mais próximo que o público chega de entender quem foram aqueles homens e quão trágico também foi o fim de muitos deles.
(Fonte: HBO/Divulgação)
Os relatos são explícitos e há tanta documentação (mesmo com muito material perdido) que sabemos a dimensão dos estragos. Porém, uma das revelações mais surpreendentes de The Lost Tapes é como a radiação estava em todo o local, não apenas próxima ao reator, à área de explosão ou nos primeiros quarteirões.
Trechos do filme são interrompidos por flashes brancos, resultado dos efeitos da radiação na película em que foram registrados. O contraste do efeito com muitas cenas triviais sendo exibidas, como se a vida pudesse transcorrer normalmente sem nenhum perigo - até porque ele era invisível - é verdadeiramente angustiante.