Ciência
18/01/2023 às 13:00•2 min de leitura
No finalzinho do século XIX e começo do século XX, um certo indivíduo parece ter feito uma fortuna vendendo obras de arte. Até aí tudo bem, sabemos que pinturas podem mesmo ser artigos bastante valiosos. O problema é que, neste caso, o pintor comercializava falsificações de pinturas medievais.
Agora, duas folhas de pergaminho que teriam sido obra do agora famoso "Falsificador Espanhol" estão sendo expostas ao público brasileiro em São Paulo, na Casa Museu Ema Klabin.
Com pinturas e manuscritos expostos em diversos museus em todo o mundo — em muitos casos provavelmente sem nem ao menos saberem se tratar de falsificações —, o Falsificador Espanhol foi descoberto por Belle da Costa Greene (1879-1950), uma antiga diretora da Biblioteca Morgan, em Nova York. Após receber uma proposta de venda do quadro Noivado de Santa Úrsula, do pintor espanhol Jorge Inglés e datado do século XV.
Após minuciosa investigação, Greene percebeu que a pintura era na verdade uma falsificação. Ela identificou diversos aspectos na pintura forjada que a levaram a crer ser o trabalho de um falsificador bastante específico, a quem ela apelidou de "Falsificador Espanhol" por ter sido pego falsificando a obra de Inglés, que realmente era natural da Espanha. Apesar do apelido, até hoje não se sabe a verdadeira nacionalidade do pintor responsável por forjar diversas obras e mais obras famosas décadas e décadas atrás.
Reprodução parcial de pintura do Falsificador Espanhol encontrada na Casa Museu Ema Klabin
Apesar de suas pinturas serem bastante fieis às originais, o pintor tinha algumas manias que entregavam suas falsificações. Quando forjava obras, ele costumava adicionar alguns traços comuns às suas pinturas falsas, mas totalmente incomuns à época em que os originais foram produzidos, na Idade Média.
Ainda hoje, pinturas atribuídas ao Falsificador Espanhol continuam sendo vendidas a somatórios bastante expressivos. Como citou o pessoal da BBC, uma folha de pergaminho pintada pelo forjador chegou a ser vendida por um total de 3.750 libras (cerca de R$ 24 mil) em dezembro de 2020.
Aqui no nosso país, dois exemplares de forjas do famoso (e curiosamente ao mesmo tempo desconhecido) Falsificador Espanhol foram de alguma forma parar nas mãos da empresária e colecionadora brasileira Ema Klabin, falecida em 1994.
Partituras foram identificadas como forjas pintadas pelo Falsificador Espanhol
As duas peças, hoje expostas na Casa Museu Ema Klabin, foram descobertas por Paulo de Freitas Costa, curador da entidade e mestre em Artes pela Universidade de São Paulo (USP). Quando encontrou os pergaminhos, Costa foi indicado a procurar a Biblioteca Morgan, nos EUA, que atestou o que já se imaginava: as obras eram mesmo de autoria do Falsificador Espanhol.
Segundo o curador, as peças teriam sido compradas em São Paulo no ano de 1975, mas a assinatura no recibo impossibilita a identificação do vendedor. "É difícil a gente saber se a dona Ema sabia ou não que eram falsificações," afirma Costa.