Artes/cultura
10/11/2023 às 11:00•2 min de leitura
Estudos científicos já estabeleceram que aprender uma segunda língua pode ampliar nossos horizontes, mas também pode mudar radicalmente a maneira como vemos o mundo ao nosso redor — até mesmo com conceitos aparentemente simples como as cores. Em um novo estudo, cientistas cognitivos e linguistas analisaram a forma como as cores são percebidas e expressadas pelo povo tsimané, um grupo indígena amazônico nativo das terras baixas da Bolívia.
Essa tribo pertence a uma cultura fascinante que está relativamente isolada do mundo industrializado. Graças ao seu estilo de vida ativo e dieta totalmente natural, pesquisas estimam que os cérebros do povo tsimané envelhecem 70% mais devagar do que de outros povos ocidentais. E como a língua local interpreta as cores?
(Fonte: GettyImages)
Normalmente, os tsimané falam apenas a sua língua nativa, que nunca diferenciou as cores "verde" e "azul" em palavras. Os principais termos de coros que todos os nativos falam consistentemente são "jaibes" (branco), "tsincus" (preto) e "jaines" (vermelho). A tribo também usa pelo menos quatro palavras diferentes para descrever tons de amarelo e possuem dois termos para verde e azul, que funcionam de forma intercambiável.
Contudo, descobriu-se que esse povo aprendeu um pouco sobre a língua espanhola no passado, sobretudo como os colonizadores da região possuem termos diferentes para descrever verde e azul separadamente. Em vez de simplesmente adotar as palavras espanholas, eles então decidiram adaptar para a sua própria língua.
Os falantes bilíngues tsimané começaram a usar "yushnus" exclusivamente para descrever o azul e "shandyes" para descrever o verde. Isso pode até parecer uma mudança sutil, mas pesquisadores acreditam que isso pode ter algumas implicações alucinantes nessa população. “Aprender um segundo idioma permite que você entenda esses conceitos que você não tinha em seu primeiro idioma”, disse o autor do estudo e professor de ciências cerebrais no MIT, Edward Gibson.
(Fonte: GettyImages)
Para chegar a tais conclusões, os investigadores reuniram 152 participantes: 71 falantes apenas de tsimané, 30 falantes apenas de espanhol e 30 bilíngues tsimané-espanhol da cidade boliviana de San Borja, a mais industrializada do que as remotas comunidades indígenas. Então, os pesquisadores mostraram aos participantes 84 fichas de cores diferentes e perguntaram-lhes quais palavras eles utilizariam para descrever cada cor de ficha.
Em um segundo esforço, foi solicitado aos participantes agrupar os conjuntos por cor. Segundo Gibson, ficou evidente que os bilíngues dividem as cores de maneira muito mais marcante do que os monolíngues, apesar de ainda serem principalmente falantes de tsimané. Na visão dos pesquisadores, é possível que a adaptação ao estilo de vida industrializado também tenha ajudado aqueles que foram expostos à língua espanhola.
Estudos anteriores apontam que as sociedades industrializadas, em geral, têm mais palavras para descrever cores diferentes do que as sociedades não industrializadas. "Dado que sociedades mais industrializadas podem falar mais sobre cor, a industrialização pode estar impulsionando o aumento da consistência nos termos de cor tsimané em bilíngues tsimané-espanhol", destacou o líder do estudo.
Ou seja, talvez a exposição a um segundo idioma não seja necessariamente o que melhora a eficiência humana em relação aos sistemas de comunicação em cores, mas sim as interações culturais proporcionadas pela habilidade de conseguir se comunicar com indivíduos inseridos em diferentes estilos de vida.