Artes/cultura
01/01/2024 às 02:00•2 min de leitura
Durante o século XVIII, o aconchegante hábito de saborear uma xícara de chá pode ter desempenhado um papel crucial na saúde pública britânica, indo além das fronteiras culturais. Ao menos essa é a conclusão de uma investigação que une história e saúde, e explora o papel desse hábito durante um momento crucial na história da Inglaterra.
Ferver a água pode ter contribuído para evitar a disseminação de doenças. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Com o surgimento da Revolução Industrial e o aumento da urbanização, a Inglaterra passou a enfrentar desafios de saneamento consideráveis. Nesse cenário, a prática de ferver água para preparar o chá pode ter sido uma intervenção eficaz, embora inconsciente, na prevenção de doenças.
Um estudo surpreendente conduzido pela economista Francisca Antman sugere que a explosão do consumo de chá durante o século XVIII pode ter contribuído significativamente para a redução das taxas de mortalidade, oferecendo uma solução simples para um problema de saúde pública.
A pesquisa de Antman, baseada em mais de 400 locais na Inglaterra, revela que áreas com pior qualidade da água experimentaram uma queda mais expressiva na mortalidade após o aumento do consumo de chá.
Com a diminuição do imposto, o chá ficou mais acessível. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
A virada ocorreu em 1784, quando o imposto sobre o chá foi reduzido drasticamente, tornando-o acessível à maioria dos britânicos. Com isso, mesmo os camponeses mais pobres passaram a consumir a bebida, substituindo alternativas menos saudáveis como a cerveja.
A análise das taxas de mortalidade antes e depois desse marco revela uma diferença significativa: as regiões com água de qualidade inferior viram uma queda de 18% nas taxas de mortalidade em comparação com as áreas com água boa. Afinal, o chá não só era mais acessível, mas também promovia a prática de ferver água, contribuindo para a prevenção de doenças e, consequentemente, para a redução das taxas de mortalidade.
Os novos hábitos podem ter impactado a mortalidade infantil da época. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Além da redução geral nas taxas de mortalidade, Antman também explorou o impacto nas mortes infantis. Embora a bebida não fosse consumida pelas crianças, observou-se um ligeiro declínio na mortalidade infantil, possivelmente relacionado ao fato de que pais que consumiam chá tinham menos doenças diarreicas, oferecendo proteção indireta aos filhos pequenos.
Essa reflexão histórica traz à tona uma verdade fundamental: os comportamentos cotidianos das pessoas podem desempenhar um papel significativo em sua saúde. No contexto atual, onde intervenções explícitas e mudanças nos hábitos são debatidas para melhorar a saúde pública, a história do chá britânico oferece uma perspectiva valiosa sobre como práticas simples podem ter impactos duradouros.