Ciência
11/08/2024 às 16:00•3 min de leituraAtualizado em 11/08/2024 às 16:00
O lendário William Shakespeare é provavelmente o maior dramaturgo de todos os tempos. Mesmo após séculos de suas criações, suas peças seguem sendo reverenciadas, discutidas e encenadas por muita gente que aprecia a arte do teatro.
Nem todo mundo sabe, mas algumas de suas principais obras foram baseadas em materiais já existentes, seja por meio de histórias antigas ou relatos históricos. Assim, Shakespeare partiu de personagens reais (como membros da realeza) para criar adaptações impactantes e inspiradas que o tornaram um grande ícone de sua área.
Escrita entre 1606 e 1607, a clássica Macbeth é uma peça tensa repleta de drama, traição, suspense e a presença do sobrenatural. Ela retrata figuras históricas que existiram, mas evidencia bem o quanto o dramaturgo tomou liberdades para constituir a sua própria versão.
Ela se inspira em Mac Bethad mac Findláich, ou Maelbeatha (anglicizado como Macbeth), o "Rei Vermelho", que assumiu o trono da Escócia entre 1040 e 1057. Foi o último dos reis gaélicos da Escócia, e foi conhecido por seu reinado pacífico e generoso com a Igreja.
Contudo, há diferenças entre o que ocorreu com ele de verdade e na peça. Na vida real, Macbeth matou o Rei Duncan no campo de batalha, enquanto na peça ele comete um assassinato, com o auxílio de Lady Macbeth.
Já na peça, Macbeth é levado a matar o monarca por conta da profecia de três bruxas que dizem que ele estava destinado a ser rei. Por conta disso, a loucura e a ambição se instalam nele e na esposa. Já o Macbeth real não teria experimentado nada disso.
Em Ricardo III, William Shakespeare escreve justamente sobre o monarca britânico de mesmo nome que viveu no século XV. Mas a sua abordagem do aristocrata traz algumas diferenças em relação ao que a história registrou sobre ele.
O Ricardo III da vida real recebeu a reputação de ser um líder implacável e ambicioso, e que provavelmente mandou matar os próprios sobrinhos para assumir o trono. Mas há também a versão que diz que tudo isso foi espalhado na época por seus inimigos políticos, sobretudo os que estavam ligados a Henrique VII, o rei que o matou e então o sucedeu.
Henrique VII era um Tudor. E Shakespeare tendia a escrever sobre a dinastia Tudor de uma forma mais simpática, o que provavelmente acontecia porque uma das pessoas desse clã, a rainha Elizabeth I, era uma grande apoiadora de sua obra. Por isso, há muitos questionamentos sobre a falta de isenção que o dramaturgo apresentou ao tratar do antigo rei.
A tragédia Rei Lear foi escrita entre 1605 e 1606. A peça, bastante dramática, fala de uma saga familiar e gira em torno da rivalidade das filhas de um monarca envelhecido, que competem entre si enquanto ele divide o seu reino. O tamanho de cada pedaço deixado a elas coincide com o quanto de amor o rei teria por cada uma das filhas. Cordelia é a única filha que realmente ama o rei, e se recusa a jogar o jogo das irmãs.
Ou seja, o tema presente aqui é a intriga. Mas a história se baseia no caso real de um antigo rei britânico conhecido como Leir. Sua biografia aparece em vários registros, como na segunda edição de The Chronicles of England, Scotlande, and Irelande, que foi uma importante fonte de pesquisa para Shakespeare.
Há uma discussão sobre o quanto da história teria realmente acontecido, já que vários estudiosos concordam que a peça de Shakespeare acrescenta à história verdadeira o aspecto da loucura do rei.
Por fim, temos o clássico Otelo, a peça escrita em 1603 e que trata de temas como amor, ciúme, vingança e casamento interracial. Na trama, Otelo é um general mouro que trabalha para o reino de Veneza. Ele é casado com Desdêmona, uma moça de pele clara e filha de um rico senador. Eles se uniram em segredo e o sogro só o aceita porque o casamento já está consumado.
Quando Otelo pretere Iago sobre Cássio em uma promoção para tenente, o preterido coloca em prática um plano maligno, tentando convencer o general de que sua esposa está tendo um caso com Cássio. Otelo em seguida enlouquece e por fim se mata.
Por muito tempo, imaginou-se que a história teria sido retirada por Shakespeare de um romance do autor italiano Giraldi Cinthio. Mas no final do século XIX, descobriu-se que o dramaturgo teria se inspirado em uma história real. A principal é diferença é que, no caso do verdadeiro Otelo, ele não mata Desdêmona, mas a espanca.