Ciência
25/05/2024 às 08:00•3 min de leituraAtualizado em 25/05/2024 às 08:00
Não faltam registros na história da humanidade de comunidades e civilizações que criaram competições para testar seus próprios limites – e superá-los, preferencialmente. Trata-se de um elemento intrínseco às pessoas, que perpassa os antigos gregos, os Jogos Olímpicos modernos e chega às inúmeras competições que surgem a cada ano.
Por diferentes razões, os seres humanos buscam na natureza desafios e testes físicos extremos, que vão de escalar montanhas íngremes à umidade excessiva da floresta amazônica. Ultrapassar marcas e vencer adversários é tanto um objetivo esportivo, quanto um estilo de vida para perfis aventureiros.
Uma das mais duras competições ciclísticas do mundo, a Race Across America (RAAM) é disputada anualmente nos Estados Unidos durante o mês de junho. Nela, competidores percorrem pouco mais de 4 mil quilômetros desde a Costa Oeste até a Costa Leste do país, cruzando 12 estados entre a Califórnia e Maryland.
A competição, aberta tanto para amadores quanto para profissionais, é uma disputa que pode ser feita solo ou em equipes de duas, quatro e até oito pessoas, que devem percorrer a distância em no máximo 12 dias, sem descanso. Diferente de outras corridas do gênero, a Race Across America não é dividida em etapas, mas uma competição contra o relógio. A dificuldade é tamanha que, a cada ano, cerca de metade dos inscritos desiste da RAAM por exaustão ou outros problemas.
A Ramsay's Round surgiu como um desafio após Charlie Ramsay, um corredor em estado semi-delirante, percorrer as encostas de Ben Nevis pouco antes do meio-dia de 9 de julho de 1978. Naquele dia, Ramsay se tornou o primeiro atleta a completar a subida de todos os munros de Fort William em tempo menor que o limite, de 24 horas.
Munro é como são chamadas as montanhas com altura superior a 900 metros na Escócia. O objetivo é escalar o maior número possível deles nas 24 horas. Ramsay idealizou uma rota própria que se tornou um clássico entre as corridas de resistência. Ele percorreu uma distância de 90 quilômetro, que envolveu escalar quase 9 mil metros, equivalente à altura do Everest.
A Iditarod Trail (trilha Iditarod, em português) é uma prova que envolve seres humanos e animais, e é percorrida anualmente no Alasca. A cada nova edição, cães presos a trenós percorrem 1600 quilômetros pela natureza selvagem do local, em meio a nevascas e temperaturas que ultrapassam os 50 graus negativos.
Ela é uma forma de homenagem aos competidores da Grande Corrida da Misericórdia, que, no ano de 1925, percorreram mais de mil quilômetros em trenós puxados por cães transportando remédios para difteria até a cidade de Nome, que vivia uma epidemia àquela época. A versão moderna ocorre desde 1973, com 50 competidores.
Por um período, a Jungle Ultra foi conhecida como a "maratona da selva". Em meio à floresta amazônica brasileira, inúmeros corredores tinham que vencer uma distância de 250 quilômetros, que se tornava ainda pior somada aos 40 °C e à umidade altíssima, exigindo o máximo do organismo dos competidores.
Ainda ocorrendo na Amazônia, porém no lado peruano, a competição envolve um percurso que atravessa pântanos, rios, descidas íngremes e trilhas estreitas, além de subidas angustiantes. Cerca de 25% dos inscritos desistem antes do fim.
A Maratona des Sable se passa no Marrocos, em meio à areia quente do deserto. Realizada desde o ano de 1986, é uma ultramaratona que exige dos corredores muita energia para superar 250 quilômetros durante seis dias. Se suportar os 40 °C do Saara marroquino não fossem suficientes, os competidores devem carregar consigo alimentos, água e demais suprimentos.
Considerada um desafio físico e mental, a Maratona des Sables já vivenciou casos de atletas que se perderam no deserto, entre eles o pentatleta olímpico Mauro Prosperi, que desapareceu por 10 dias até ser encontrado 300 quilômetros longe da rota e com 18 quilos a menos.