Ciência
25/11/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 25/11/2024 às 15:00
Por séculos, visitantes fiéis e curiosos têm enchido a Capela Sistina impressionados com a obra de Michelangelo Buonarroti que reimagina cenas do livro da Bíblia Gênesis. Entre os 300 personagens representados no teto, poucos perceberam que uma das figuras pode carregar um segredo sombrio: o destino de morrer em breve.
Uma investigação detalhada revelou que os traços únicos do seio esquerdo de uma mulher na pintura sugerem uma doença fatal, e não qualquer doença – mas um caso avançado de câncer de mama. Um grupo internacional de especialistas concluiu que a forma como Michelangelo retratou o corpo dessa mulher, localizada na cena do dilúvio bíblico, indica conhecimento médico. A representação da enfermidade teria sido uma escolha intencional do artista.
Aos 30 e poucos anos, Michelangelo já era um artista experiente quando aceitou o trabalho imenso de pintar a Capela Sistina, mesmo com certa resistência. Conhecido por seu domínio da anatomia humana e sua atenção aos detalhes, é pouco provável que um artista com seu talento e precisão cometesse erros ao retratar a figura humana.
Por isso, o que alguns considerariam um “erro” em uma de suas personagens, os especialistas agora interpretam como uma deformidade proposital no seio da mulher. A análise médica focou em sinais específicos na pintura, incluindo a retração na pele ao redor da aréola e leves inchaços próximos da axila, características típicas do câncer de mama.
Em uma foto médica, esses sinais seriam considerados evidências claras da doença. O oncologista que estudou o detalhe disse que a pintura sugere uma predisposição genética ao câncer, comum na Europa desde épocas remotas. Para os especialistas, esses traços demonstram que a escolha do artista foi pensada para simbolizar a mortalidade e a punição divina.
A intenção de Michelangelo em retratar o câncer em sua obra foi, segundo os especialistas, uma forma de explorar a efemeridade da vida. O grupo de pesquisadores propôs que o simbolismo do câncer no teto da Capela Sistina carrega uma mensagem profunda sobre o pecado e a mortalidade. Como disse o grupo: “A representação de um provável câncer de mama está ligada ao conceito de impermanência da vida e tem o significado de punição.”
Essa não foi a única vez que Michelangelo explorou a imagem da doença. Anos depois, ele esculpiu uma representação feminina para o túmulo de Giuliano de' Medici, na qual o seio da figura exibe características semelhantes. Esse detalhe, aliás, chamou a atenção de oncologistas em 2000, levantando questões sobre a familiaridade do artista com doenças graves e a intenção de usá-las como metáforas em suas obras.
Assim, ao contrário do que muitos pensam, Michelangelo não usou um modelo com a doença para pintar a figura da mulher na Capela Sistina. Como destacam os pesquisadores: “Michelangelo não recorreu a modelos vivos (masculinos ou femininos) para retratar o Gênesis.” Em vez disso, ele criou uma composição que mescla conceitos bíblicos e idealizações anatômicas. Esse simbolismo oculto, após séculos despercebido, é mais uma prova de que a genialidade de Michelangelo.