Ciência
13/12/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 13/12/2024 às 15:00
Uma pequena estátua de mármore branco, do tamanho da palma da mão, está causando um alvoroço entre os arqueólogos. Descoberta sob uma parede de um antigo templo na cidade egípcia de Taposiris Magna, a peça retrata uma figura feminina usando uma coroa real. A arqueóloga Kathleen Martinez, que lidera as escavações, acredita que a imagem pode ser ninguém menos que Cleópatra VII — a lendária rainha que teve romances com Júlio César e Marco Antônio. Mas nem todo mundo está convencido dessa teoria.
Martinez, que comanda a equipe egípcio-dominicana há mais de uma década, apresentou sua hipótese com entusiasmo. Afinal, Cleópatra VII, que viveu entre 69 e 30 a.C., foi a última soberana da dinastia ptolomaica, iniciada por Ptolomeu I Sóter, um dos generais de Alexandre, o Grande. No entanto, outros especialistas, como o ex-ministro egípcio das antiguidades Zahi Hawass, discordam.
A grande polêmica se dá por um detalhe importante: durante a dinastia ptolomaica, os faraós eram representados em um estilo egípcio, não romano. E essa estatueta tem características bem romanas. Vale lembrar que o período romano no Egito começou logo após a morte de Cleópatra, em 30 a.C. Se a peça for realmente romana, ela não poderia ser uma representação da famosa rainha egípcia.
Para complicar ainda mais a discussão, a equipe encontrou outros artefatos perto do busto. Foram desenterradas 337 moedas, muitas delas com a imagem de Cleópatra VII, além de lâmpadas de óleo, um anel de bronze dedicado à deusa Hathor e um amuleto com a frase “A justiça de Rá surgiu” — uma referência ao deus sol egípcio. Esses itens fazem parte do que é conhecido como um “depósito de fundação”, uma tradição dos antigos egípcios de enterrar objetos importantes antes de erguer um templo.
Outra descoberta interessante foi um fragmento de busto de um rei usando o "Nemes", o clássico adorno faraônico que cobre a cabeça e os ombros. Ainda não se sabe qual rei essa peça representa, mas a presença desses artefatos deixa claro que Taposiris Magna foi um lugar de importância histórica e religiosa.
Taposiris Magna, fundada por volta de 280 a.C. à beira do Mediterrâneo, era uma cidade com templos dedicados a Osíris, Ísis e outras divindades egípcias. Além das estátuas e moedas, Martinez e sua equipe também encontraram uma necrópole com pelo menos 20 túmulos perto de outro templo da época ptolomaica.
Para dar uma dose extra de suspense, eles ainda realizaram explorações subaquáticas e descobriram restos humanos, cerâmicas e estruturas que permanecem sem identificação ou datação.
Martinez tem esperança de que o local esconda o túmulo perdido de Cleópatra VII, uma teoria que levanta sobrancelhas entre muitos colegas. Apesar das dúvidas, ela continua firme em sua busca. Enquanto isso, a estátua e seus artefatos vizinhos são uma janela intrigante para a complexa mistura de influências egípcias e romanas daquela época.