Ciência
26/05/2019 às 04:00•3 min de leitura
Você já se perguntou o que aconteceria se rolasse uma guerra nos arredores da Terra e um exército espacial decidisse aniquilar o outro a tiros? Por sorte, esse é um cenário bastante improvável, uma vez que hoje em dia não é mais permitido levar armas de fogo em viagens espaciais — pois é, caro leitor, os soviéticos chegaram a ter um canhão automático Rikhter R-23 instalado na estação espacial Almaz —, mas Troy Carpenter, Diretor do Observatório Goldandale, em Washington, explicou o que ocorreria se tal situação se apresentasse.
Considerando que a arma usada seria um Rikhter R-23 e que as batalhas aconteçam na baixa órbita terrestre, isto é, até dois mil quilômetros da superfície, ao contrário do que você possa ter imaginado, os projéteis que não acertassem o alvo não se deslocariam pelo espaço por toda a eternidade.
Rikhter R-23 (Tactical Mania)
Isso porque, segundo Troy, os projéteis disparados por esses canhões alcançam velocidades entre 1,2 mil e 3,2 mil km/h e, para permanecer viajando infinitamente, eles teriam que, pelo menos, ultrapassar os 28,2 mil km/h — que é a velocidade necessária para manter um objeto (como um satélite, por exemplo) na baixa órbita terrestre.
O curioso é que, de acordo com Troy, mesmo que os canhões fossem acionados a partir de uma órbita geoestacionária — ou seja, a quase 36 mil quilômetros acima da superfície terrestre —, os projéteis nem chegariam perto de alcançar a velocidade necessária para seguir viajando eternamente pelo espaço. Afinal, para permanecer nessa altitude, os satélites precisam manter velocidades orbitais de pouco mais de 9 mil km/h.
E se o canhão fosse disparado a partir de uma nave em movimento? Nesse caso, o projétil viajaria entre 1,2 mil e 3,2 mil km/h (dependendo do calibre) mais a velocidade da espaçonave. Contudo, ainda assim, conforme explicou Troy, a soma das duas velocidades dificilmente seria suficiente para que o tiro ultrapassasse o sistema formado pelo nosso planeta e a Lua.
Modelo da estação espacial militar Almaz (Internet Archive)
Voltando ao assunto do Rikhter-23 instalado na estação espacial Almaz, ele era capaz de disparar 2,6 mil projéteis por minuto — e é óbvio que os soviéticos botaram o canhão para cuspir fogo no espaço para ver o que acontecia! Originalmente, a arma deveria ser acionada por um dos cosmonautas, mas, no fim, o bom senso imperou e o teste foi conduzido à distância.
Os soviéticos não sabiam quais seriam as consequências para o humano que porventura acionasse o Rikhter-23 — uma vez que eles estavam preocupados com a intensa vibração e ruído que o canhão poderia produzir. O temor não era infundado, e durante o teste, a arma se comportou como um propulsor e fez com que a posição e altitude da estação espacial fossem alteradas, obrigando os soviéticos a corrigir a órbita da Amaz.
Já no caso de uma arma mais normalzinha — e não um canhão automático —, segundo o pessoal do site Business Insider, caso ela fosse acionada por um astronauta flutuando no cosmos, como não existe atmosfera no espaço, o som não tem um “meio” pelo qual viajar e, portanto, o disparo não produziria ruído algum.
E se fosse uma arma mais "normal"? (Business Insider)
Contudo, de acordo com a terceira lei de Newton — ou Princípio de Ação e Reação —, o astronauta seria “empurrado” com a mesma intensidade na direção oposta à da bala. Caso o cara estivesse empunhando uma AK-47, por exemplo, cujos projéteis pesam 7,9 gramas e alcançam velocidades de quase 2,6 mil km/h, o pessoal do Business Insider calculou que seu corpo seria lançado na direção oposta ao disparo a 0,11 km/h.
Já se o astronauta estivesse empunhando uma Smith & Wesson calibre .50, o resultado seria curiosamente diferente. Isso porque, como as balas dessa arma são um pouco mais “lentas” e alcançam velocidades de pouco mais 2 mil km/h, mas pesam 19,4 gramas, isto é, mais que o dobro do que o projétil de uma AK-47, o cara seria lançado duas vezes mais depressa na direção oposta ao disparo — mas, ainda assim, superdevagar!