Artes/cultura
07/11/2020 às 04:00•2 min de leitura
Desde criança, a turca Burçin Mutlu-Pakdil tinha um sonho: estudar o universo. À noite, ficava olhando as estrela, mas sabia que seria muito difícil realizar seu sonho na cultura em que vivia.
Muçulmana devota, numa época em que a Turquia proibia mulheres em faculdades e outras instituições públicas, ela persistiu, e acabou se tornando uma pesquisadora de pós-doutorado no Observatório Steward da Universidade do Arizona.
A história da vida de Mutlu-Pakdil foi contada em uma antologia de documentários produzidos pelo Science Friday Initiative e do Howard Hughes Medical Institute (HHMI) em parceria com o Tangled Bank Studios. A série, chamada Breakthrough, foi feita inicialmente para a TV e se encontra disponível no site BreakthroughFilms.org.
Quando Mutlu-Pakdil começou a trabalhar como astrofísica, os cientistas já tinham teorias fortes e testadas sobre a formação da maioria das galáxias do universo. Embora, como pesquisadores, soubessem que é possível encontrar, às vezes, uma exceção que desafia os cânones da ciência.
E coube justamente a Mutlu-Pakdil, ela própria uma exceção em um universo profissional predominantemente masculino, descobrir uma galáxia de formato muito estranho no fundo de um amplo levantamento do céu.
Situada a 350 milhões de anos-luz da Terra, a galáxia, codificada como PGC 1000714, tem um formato conhecido como Objeto de Hoag, que consiste num centro luminoso rodeado por um anel exterior elíptico de estrelas, sem nenhum ponto de conexão. Fenômeno raríssimo, somente uma em cada mil galáxias possui este formato.
Pesquisando mais atentamente, a observadora de galáxias descobriu que aquele gigantesco acúmulo de estrelas, poeira e gás possuía mais uma peculiaridade: um segundo anel, mais próximo do centro galáctico, ou seja, não se tratava de um galáxia rara, mas uma espécie completamente nova de galáxia.
Com base na literatura existente até então, Mutlu-Pakdil acabou duvidando de si mesma, porque um objeto desse tipo não poderia teoricamente existir. Porém, acostumada a desafiar as verdades impostas, a garota turca comunicou a descoberta de um objeto celestial que despreza as convenções pré-existentes.
Hoje, a astrofísica está estudando galáxias diferentes, as galáxias anãs, a partir do Observatório de Las Campanas, no Chile. Ela continua na expectativa de encontrar objetos desse tipo e aprender mais sobre como são formadas as galáxias. Aquela de dois anéis hoje tem nome de menina turca: Burçin.