Estilo de vida
05/10/2021 às 11:00•3 min de leitura
A partir dos princípios fotográficos descobertos por Joseph Nicéphore Niepce (1765-1833) e Louis Daguerre (1787-1851), pioneiros da fotografia, o inventor Edward Muybridge (1830-1904) desenvolveu uma maneira primitiva para a câmera cinematográfica, quando Leland Stanford (1824-1893), então governador da Califórnia, o convidou para realizar estudos fotográficos de cavalos em movimento.
Instalando 24 câmeras presas a fios de disparo estendidos em uma pista, Muybridge estruturou seu sistema engenhoso para fotografar movimento sequencial, o qual passou a ser chamado de zoopraxiscópio. Influenciado pela invenção, em 1882 Étienne-Jules Marey (1830-1904) criou uma câmera giratória em que diferentes fotos eram tiradas em uma sequência rápida através de um cartucho giratório, efetuando disparos como o mecanismo de um rifle.
Em fevereiro de 1888, Muybridge foi ao laboratório de Thomas Edison (1847-1931), em West Orange (Nova Jersey, EUA) para propor uma colaboração para fundir seu zoopraxiscópio com o fonógrafo do inventor e criar uma câmera cinematográfica avançada. Embora tenha ficado intrigado, Edison recusou a iniciativa porque não considerava o aparelho de Muybridge muito prático ou eficiente para registrar movimentos.
Então, a fim de tentar proteger suas futuras criações, em 17 de outubro daquele ano Edison entrou com uma ação de descrição de suas ideias no Escritório de Patentes, para um dispositivo "que faria pelo olho o que o fonógrafo fez pelo ouvido: gravar e reproduzir objetos em movimento". Edison chamou essa invenção de cinetoscópio ou cinefone.
(Fonte: Ourolux/Reprodução)
Ao longo da sua carreira, Edison fracassou diversas vezes tentando inventar coisas, como aconteceu com uma máquina de contagem de votos e a controversa boneca falante. No caso de seu cinetoscópio, não foi muito diferente durante as primeiras tentativas de fazer acontecer o processo que hoje conhecemos como cinema.
Controvérsias sobre a invenção surgiram logo no começo com relação a quanto o próprio Edison contribuiu para o desenvolvimento da câmera cinematográfica. Isso porque, em junho de 1889, William Kennedy Laurie Dickson (1860-1935) foi quem recebeu a tarefa de inventar o dispositivo — certamente por sua experiência ampla como fotógrafo —, nomeando Charles A. Brown como seu assistente.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Portanto, muito embora Edison tenha concebido a ideia e iniciado as tentativas, aparentemente Dickson realizou a maior parte dos experimentos, levando a maioria dos estudiosos modernos a atribuir-lhe o crédito principal por transformar o conceito em uma realidade prática.
Por outro lado, no laboratório de Edison tudo funcionava como uma organização colaborativa, com assistentes sendo designados para trabalhar em muitos projetos, enquanto o inventor apenas os supervisionava.
O cinetoscópio começou com base na concepção de Edison do cilindro fonográfico. Minúsculas imagens fotográficas foram afixadas em sequência a um cilindro com a proposta de que, ao girar, a ilusão de movimento seria reproduzida por meio da luz refletida. No entanto, isso se mostrou impraticável.
(Fonte: Timetoast/Reprodução)
Edison resolveu seguir outros caminhos para conceber o cinetoscópio, tendo como base o trabalho de outras pessoas, como o fisiologista francês Étienne-Jules Marey, que empregou um rolo contínuo de filme em seu cronofotógrafo para produzir uma sequência de imagens estáticas — mas a falta de rolos de filme de comprimento e durabilidade suficientes para uso em um dispositivo como aquele atrasou o processo.
O dilema só foi sanado quando John Carbutt (1832-1905) desenvolveu folhas de filme feitas de celuloide revestidas por emulsão. Quando a Eastman Company passou a produzir o próprio filme de celuloide, Dickson se adiantou para comprá-lo em grande quantidade. Em 1890, acompanhado de seu novo assistente, William Heise, Dickson desenvolveu uma máquina que expunha uma tira de filme em um mecanismo de alimentação horizontal.
(Fonte: Matador Network/Reprodução)
O primeiro protótipo do cinetoscópio foi apresentado em uma convenção da Federação Nacional de Clubes de Mulheres, em 20 de maio de 1891. O dispositivo consistia em uma câmera e um visor de olho mágico; quando era girada a manivela ao lado da caixa, o filme corria horizontalmente entre dois carretéis em velocidade contínua. O obturador então se movia rapidamente, dando exposições intermitentes quando o aparelho era usado como uma câmera e vislumbres da impressão positiva quando usado como um visualizador — no caso, assim que o espectador posicionava o olho na abertura que abrigava a lente.
Apesar de o frenesi ao redor da invenção ter durado bem pouco, foi o suficiente para inspirar os notórios Louis (1864-1948) e Auguste Lumière (1862-1954) a desenvolverem uma câmera de cinema com um projetor, o cinematógrafo, permitindo que várias pessoas assistissem a um filme ao mesmo tempo.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em 1895, Dickson deixou a empresa de Edison e ajudou a fundar a Biograph Pictures. Dois anos depois, Edison processou a Biograph e a American Mutoscopoe, alegando que ambas haviam infringido sua patente para o cinetoscópio. Em 1902, no entanto, o Tribunal de Apelações dos Estados Unidos decidiu que, embora o inventor tivesse patenteado o aparelho, ele possuía apenas os direitos do sistema de roda dentada que movia o filme perfurado através da câmera, e não todo o conceito da câmera de cinema.
Em 1909, as empresas de Edison e Dickson uniram forças para criar a Motion Pictures Patents Company, uma organização que visava proteger patentes e impedir que outros inventores entrassem na indústria cinematográfica. Em 1917, a Suprema Corte dissolveu a organização, e isso significou a saída oficial de Edison da indústria cinematográfica, após tentar fazer acontecer uma versão aprimorada de seu cinetoscópio, unindo o som e as imagens projetadas — mas que também não deu certo, somando-se à pilha de invenções que quase chegaram lá.