Ciência
14/12/2021 às 04:00•3 min de leitura
Em setembro deste ano, a National Aeronautics and Space Administration (NASA) anunciou que o astronauta Mark Vande Hei e o cosmonauta Pyotr Dubrov, da Agência Espacial Federal Russa (Roscomos), quebrarão o recorde de o ser humano que mais passou tempo no espaço, totalizando 353 dias a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) até março de 2022.
Essa estadia prolongada dos astronautas dará à NASA a oportunidade de fornecer mais estudos sobre como o corpo humano se adapta à vida na microgravidade por longos períodos. A pesquisa será essencial no planejamento de missões futuras, como a Artemis, à Lua, ou uma de longa duração para Marte.
Mas até agora, o que os cientistas sabem sobre a vida no espaço, tendo que conviver com a ausência de peso e radiação (dois fatores que podem causar mudanças duradouras no corpo)?
(Fonte: Blockdit/Reprodução)
A busca para obter esse tipo de pesquisa começou em novembro de 2012, quando a NASA, a Roscomos e seus parceiros internacionais selecionaram Scott Kelly (gêmeo idêntico de Mark Kelly) e Mikhail Kornienko, dois astronautas veteranos, para uma missão de 1 ano a bordo da Estação Espacial Internacional, que aconteceria em 2015.
O objetivo da expedição incluía a coleta de dados científicos importantes para a futura exploração humana do Sistema Solar e de como o corpo se comporta no espaço por um período grande. Os dados seriam usados para desenvolver e validar melhores medidas contra os ricos associados a futuras missões ao redor da Lua, asteroides e uma viagem para Marte.
A missão ISS começou em 27 de março de 2015 e terminou em 2 de março do ano seguinte. Ao longo de todo o tempo em que Scott ficou no espaço, seu irmão gêmeo foi acompanhado por pesquisadores da NASA de perto, que procuravam determinar as mudanças exatas que a vida no espaço oferece ao corpo humano até no nível do ácido desoxirribonucleico (DNA).
(Fonte: Popular Science/Reprodução)
Em 2019, o resultado de 365 dias de estudo foi publicado na revista Science, mas teve pouco empenho da imprensa. A dra. Susan Bailey e o dr. Christopher Mason, que conduziram o Estudo dos Gêmeos, declararam que Scott Kelly sofreu perda óssea perceptível.
“Em sua urina, você podia ver o cálcio desaparecendo”, declarou Mason ao programa de rádio Science Friday. A microgravidade também causou perda muscular, que já havia sido identificada pela NASA há décadas, por isso foram instalados equipamentos especiais para exercícios físicos.
Assim que Scott foi testado enquanto ainda estava no espaço, os estudiosos descobriram que os genes responsáveis pela construção da nossa massa óssea e muscular estavam em estado ativo, ou seja, o corpo de Kelly lutava, sem sucesso, para restaurar o que havia perdido, e os pesquisadores chamaram isso de "Luta de Sísifo".
(Fonte: Space.com/Reprodução)
No Estudo dos Gêmeos, foi descoberto também que a cognição de Scott Kelly foi bem afetada após 1 ano no espaço. Assim que o astronauta voltou à Terra, os testes revelaram que sua mente havia declinado em velocidade e precisão, sendo que no espaço sua pontuação foi ainda pior.
Esses impedimentos cognitivos persistiram durante 6 meses após o pouso, sugerindo que poderiam até ser permanentes. Bailey acredita que o declínio cognitivo de Kelly está mais relacionado à exposição à radiação do que aos efeitos da microgravidade, apostando nos avanços tecnológicos para proteger ainda melhor os astronautas.
Ela também apontou que a radiação modificou o DNA de Kelly ao longo de seu ano no espaço, levando a rearranjos entre os cromossomos e dentro deles. As células T, pertencentes ao sistema imunológico e responsáveis pelo reparo do DNA, também aumentaram visivelmente a ação delas e morreram quando o astronauta chegou à Terra, mas algumas alterações genéticas persistiram.
(Fonte: Wired/Reprodução)
Fora todos esses apontamentos, não foi diagnosticado nenhum impacto duradouro na saúde de Kelly. A NASA até ficou surpresa em perceber que os telômetros de Kelly, que deveria encolher em resposta ao estresse, levando a um envelhecimento mais acelerado, alongaram-se enquanto ele estava no espaço e voltaram a encolher rapidamente até se estabilizarem depois que ele pousou na Terra.
Até hoje os pesquisadores não conseguem explicar o envelhecimento tardio, por isso eles esperam que essa próxima missão da ISS explique o que ficou pendente durante esses anos.