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07/01/2022 às 06:30•2 min de leitura
A morte do arcebispo Desmond Tutu (1931-2021), considerado um herói na luta contra o apartheid e vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1984, no dia 26 de dezembro chamou a atenção das pessoas por um fato curioso: antes de falecer, ele havia solicitado que seu corpo fosse submetido à aquamação, um processo também conhecido como "cremação líquida".
Você já ouviu falar dessa técnica? A aquamação é considerada a forma mais sustentável e ecológica de se lidar com um cadáver, mas atualmente só é legalizada em 8 dos 50 estados dos Estados Unidos. Nos próximos parágrafos, nós nos aprofundaremos nesse tema e falaremos mais a respeito da cremação com água.
(Fonte: Pixabay)
Quando perdemos um ente querido, dificilmente pensamos no impacto que seu enterro ou cremação terá na natureza, mas a verdade é que os enterros convencionais incluem uma série de elementos que são retirados de fontes naturais, como a madeira, o algodão ou até mesmo a pedra.
No caso da cremação, por outro lado, o calor emitido para transformar o corpo em cinzas é tão grande que seria capaz de incendiar uma casa inteira — o que também está atrelado à emissão de gases de efeito estufa. Por esse motivo, a aquamação surge como uma opção muito mais barata e viável para não prejudicar o meio ambiente.
Esse processo utiliza uma solução alcalina feita a partir de hidróxido de potássio para simular o processo de decomposição natural que o corpo sofreria debaixo da Terra, mas acelera para que isso seja feito em 90 minutos. Ao fim do processo, restarão somente os ossos da pessoa, que serão cremados normalmente, só que em uma tonalidade muito mais clara e com 30% a mais de pó. De acordo com pesquisadores, o processo requer 90% a menos de energia do que uma cremação convencional.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar de a aquamação ter entrado em evidência com a morte de Desmond Tutu, essa prática já é realizada há vários anos em alguns países. Em 2014, um artigo publicado na revista especializada Science, Technology, & Human Values pelo especialista em ética tecnológica Philip Olson, da Virginia Tech University, descreveu as vantagens do uso da técnica.
Segundo Olson, o procedimento foi usado pela 1ª vez nos Estados Unidos durante a década de 1990 por pesquisadores do Albany Medical College. Eles procuravam "uma maneira eficiente e barata de descartar restos de animais experimentais que continham radioisótopos de baixo nível", explicou o especialista.
Desde então, muitas pessoas defendem que a aquamação gera uma série de benefícios ambientais na cremação e no sepultamento, que se alinham com a ideia de "sepultamento verde". Por fim, existe a visão de que a hidrólise alcalina seria uma forma mais "suave" de se despedir de um ente querido, uma vez que envolveria água e não fogo.
(Fonte: Pixabay)
Pelo fato de o método ter sido criado para lidar com o descarte de animais mortos, não é difícil imaginar o motivo pelo qual a aquamação sofre tamanha resistência da sociedade. Segundo o clero católico, por exemplo, esse tipo de prática não demonstra um verdadeiro "respeito ao corpo".
Essa é uma das razões pela qual a hidrólise alcalina ainda é considerada ilegal em diversos estados nos Estados Unidos. Por isso, é de se imaginar que seja necessário mais um pouco de marketing e estratégias de comunicação até que a aquamação passe a ser vista com melhores olhos por boa parte da população.