Artes/cultura
10/04/2022 às 09:00•2 min de leitura
Em estudos recentes, o veneno de uma das espécies mais mortais e perigosas de caracol-do-cone, a Conus regius, foi utilizado para sintetizar um composto chamado RgIA4. Isso significa que a síntese do veneno é capaz de impedir a transmissão dos sinais de dor por parte dos neurônios, sendo até 1.000 vezes mais potente que os analgésicos opioides, como o ibuprofeno e a morfina.
Os pesquisadores envolvidos na criação destes componentes apontam que o futuro dos analgésicos possa estar na sintetização do veneno do caracol. A existência de analgésicos criados a partir desses compostos poderia ser uma grande alternativa aos fármacos utilizados atualmente, resolvendo dois grandes problemas atuais: a tolerância do corpo devido ao uso contínuo e a dependência química.
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Analgésicos são remédios utilizados para o alívio de dores, desde as que podem ser tratadas em casa, até as pós-operatórias ou oncológicas, ou seja, esses medicamentos são utilizados com frequência por todos nós. O problema disso é que o corpo pode desenvolver tolerância ao fármaco.
Os que viessem a ser desenvolvidos a partir do veneno de espécies de caracol-do-cone atuariam sobre receptores diferentes das células nervosas: ao invés dos opioides, atuaria nos nicotínicos, interagindo com os neurotransmissores. Resumidamente, esses remédios impediriam a transmissão dos sinais de dor por parte dos neurônios.
Uma das grandes motivações dessas pesquisas é conseguir contornar a epidemia de opioides que assola países como os Estados Unidos. Dados publicados na Science Mag mostraram que, nos EUA, há 12 milhões de pessoas no país dependentes de fentanilo, buprenorfina e oxicodona.
(Fonte: Pexels)
Os analgésicos a base do veneno de caracóis seriam grandes aliados no combate à epidemia de opioides porque, apenas nos últimos 20 anos, cerca de 500 mil vidas foram ceifadas por overdose em medicamentos do gênero nos Estados Unidos.
Esse cenário é reflexo de um problema criado há mais de 20 anos, quando a indústria farmacêutica iniciou campanhas agressivas de marketing incentivando a prescrição de opioides em altas doses. Essa epidemia é considerada complexa e dinâmica, e tem sido combatida a partir da adoção de políticas públicas de combate ao uso indiscriminado de fármacos como o fentanil, por exemplo.
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Há quem caminhe pelas praias recolhendo conchas e caracóis. Suas formas bonitas e coloridas distraem do fato que esses animais invertebrados são assassinos marinhos que utilizam veneno paralisante, emitido por sua "língua", para capturar suas presas. O veneno de algumas espécies de caracóis-do-cone é extremamente perigoso e até mesmo fatal para os humanos.
Mesmo perigoso, a sintetização do veneno já está em ensaios clínicos e um medicamente já está pronto para venda: o Prialt. Apesar de ser um ótimo substituto para os opioides, no entanto, o Prialt necessita de uma injeção na espinha, motivando os pesquisadores a encontrar um método menos invasivo e acessível.