Peixes possuem habilidades surpreendentes de mudança de sexo

07/11/2022 às 13:003 min de leitura

No planeta, cerca de dois por cento das espécies de peixes apresentam algum tipo de hermafroditismo. Ao todo, 500 espécies distintas se destacam por apresentarem propriedades únicas, como resultado de adaptações históricas baseadas no comportamento social, na hierarquia e na necessidade de se ajustar às diferentes condições ambientais. Mas como eles desenvolveram essas habilidades especiais de flexão de gênero? 

Segundo o professor Charles Tyler, fisiologista reprodutivo da Universidade de Exeter, o segredo para a mudança de sexo está no grande número e diversidade de espécies. Vivos há 500 milhões de anos, os peixes foram ramificados em cerca de 26 mil espécies, conferindo uma adaptação poderosa em uma ampla gama de nichos ambientais. E essas questões trouxeram impactos diretos ao modo como os indivíduos se reproduzem.

Caso um peixe se reproduza como fêmea durante a primeira parte de sua vida e agir como um macho pelo restante de seu tempo no planeta, ele efetivamente dobra sua produção de filhotes. Assim, transitar entre os gêneros maximiza a capacidade de transmitir genes, mesmo que as circunstâncias ambientais ou sociais se alterem consideravelmente. 

Basicamente, há dois tipos de “hermafroditas sequenciais”, ou seja, peixes que podem mudar permanentemente de sexo em algum momento de suas vidas. Os “protogínicos” se transformam de indivíduos femininos para masculinos e incluem o kobudai (Semicossyphus reticulatus), o peixe-papagaio (Amphilophus citrinellus) e outros espécimes habitantes de recifes de corais. Porém, a regra não funciona essencialmente para todos, já que alguns deles podem permanecer como fêmeas pelo resto de seu ciclo.

(Fonte: BBC / Reprodução)(Fonte: BBC / Reprodução)

Enquanto isso, os "protândricos" fazem o caminho contrário. O barramundi-australiano (Lates calcarifer), a dourada (Sparus aurata) e o pargo-preto (Acantopagrus schlegeli) são alguns dos exemplos desse grupo e chamam a atenção por viverem ao lado de vários peixes não reprodutores subordinados. Devido às limitações de espaço, indivíduos do grupo raramente permitem a existência de dois reprodutores; quando a fêmea dominante morre, o maior macho se transforma em fêmea.

Em espécies de ambos os grupos, a “hipótese da vantagem do tamanho” parece explicar os fundamentos por trás da mudança. Assim, é possível que fêmeas se tornem machos, quando maiores, para dominar fêmeas menores, enquanto a transformação de machos para fêmeas permite a geração de ovos mais eficiente e em maior escala. No entanto, há um terceiro time: “hermafroditas bidirecionais”. Habitantes de recifes de coral, eles se movem pouco na vida e podem ser machos ou fêmeas quando bem entenderem, segundo o que for mais vantajoso.

Como o sexo é determinado?

Frequentemente, a temperatura determina o sexo — a maioria dos peixes se desenvolverá preferencialmente como macho em águas mais quentes, por exemplo. Tudo isso se resume à existência de uma enzima chamada aromatase, que transforma hormônios "andrógenos" em hormônios estrogênicos capazes de gerar ovários por meio de gônadas. Rapidamente, essa substância desenvolve novos tecidos e resulta em transições em até oito dias.

Além disso, essa enzima também é crucial em relação aos fatores ambientais. “Como essa enzima é sensível à temperatura, ela pode ser ligada ou desligada dependendo da temperatura da água”, explica o professor Stefano Mariani, da Universidade de Salford, reforçando também o impacto de poluentes químicos, níveis de acidez da água e a presença do parasita intestinal bacteriano Wolbachia como determinantes para a ação da aromatase.

(Fonte: Getty Images / Reprodução)(Fonte: Getty Images / Reprodução)

Ainda há poucas evidências sobre o efeito de poluentes sintéticos em animais marinhos, porém suas implicações na temperatura do planeta são uma realidade. Um estudo de 2008, publicado na revista PLoS ONE, pesquisou o comportamento de 59 espécies e descobriu que um aumento na temperatura da água de apenas um a dois graus Celsius pode alterar a proporção sexual de três machos para cada fêmea, tanto em grupos oceânicos quanto aquáticos.

“A faixa térmica em que os ovos se desenvolvem é relativamente estreita – se as temperaturas na areia forem muito baixas ou muito altas, os ovos não se desenvolverão adequadamente e o embrião morrerá”, conclui o Dr. Jacques-Olivier Laloë, da Universidade Deakin, na Austrália. “Chega um ponto em que, apesar de ter uma grande população feminina, os ninhos simplesmente não serão viáveis – os ovos estarão essencialmente cozinhando na areia.”

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