Saúde/bem-estar
30/03/2023 às 14:30•2 min de leitura
No Brasil, o aborto é permitido em casos de estupro, risco à vida da mulher ou anencefalia do feto. Mas, em vários outros países e regiões, ele é permitido por qualquer motivo até a décima semana de gravidez. Uma gestação humana comum leva em torno de 40 semanas, contando a partir do último dia de menstruação da mulher.
O aborto legal está no centro dos debates na América Latina (a Argentina, por exemplo, mudou sua lei no fim de 2020), nos Estados Unidos (que, ao contrário, revogou o aborto legal ao nível nacional em 2022) e em vários outros países. Mas a questão, geralmente, é tomada por muitos argumentos religiosos e moralistas, que comparam o aborto com um assassinato.
Quem compara o aborto ao assassinato frequentemente usa imagens ou descrições de bebês quase formados, sendo arrancados brutalmente das barrigas das mães, com suas mãozinhas e perninhas. Pensando nisso, a médica e ativista pró-escolha Joan Fleischman resolveu divulgar como é uma gravidez de 10 semanas, de fato.
Fleischman afirma que seu objetivo, com essas imagens, não é fazer um juízo de valor sobre o aborto, dizendo que existe uma hora melhor para fazê-lo, nem dizer que o aborto espontâneo no início da gravidez é menos sofrido, para quem queria engravidar. A médica argumenta que as mulheres têm direito de saber o que está sendo removido de seu ventre — só isso.
Ao jornal britânico The Guardian, Fleischman contou que algumas mulheres pedem para ver o feto, logo após o aborto legal. Elas ficam nervosas, esperando ver um bebê minúsculo, mas já com pernas e bracinhos, como os moralistas (e até alguns livros escolares) descrevem.
Então, se surpreendem ao ver um amontoado de células, quase impossível de discernir o que é. "Foi aí que percebi o quanto as imagens na internet e em cartazes, mostrando qualidades humanas nesses estágios iniciais do desenvolvimento, se infiltraram na cultura. As pessoas não acreditam que é isso que sai [no aborto]", explica a médica.
Um embrião de cinco semanas (Fonte: MYA Network/Reprodução)
Com cinco semanas de gravidez, os tecidos do saco gestacional (onde o feto se desenvolve) mal são perceptíveis a olho nu, pois não chegam a 1 cm de diâmetro. Dessa semana até a 10ª, limite para o aborto legal em muitos países, o embrião cresce um milímetro por dia.
A foto abaixo mostra o que é retirado do ventre da mulher na 9ª semana, uma antes do limite legal para a maioria dos países. O saco gestacional já está mais visível, porém o embrião ainda não pode ser identificado — tem pouco mais de 1,2 cm, nesse momento.
Embrião com nove semanas de gestação (Fonte: MYA Network/Reprodução)
É só depois da 10ª semana que o embrião passa a ser chamado de feto — e que os batimentos cardíacos podem ser aferidos. As sinapses cerebrais começam a se formar na 17ª semana e só depois disso o feto começa a adquirir a aparência de mini-bebê.
As funções cerebrais, como a consciência e capacidade de sentir dor, não aparecem antes da 30ª semana. Vale lembrar que a idade gestacional em semanas é estimada a partir da data da última menstruação. Ou seja, antes da concepção de fato.
Nos países onde o aborto legal é permitido, o procedimento pode ser realizado em casa, antes da 10ª semana. Os serviços de saúde fornecem duas medicações: uma para preparar o corpo e outra para expulsar o embrião do corpo. Há sangramentos e a mulher pode sentir dores, mas o procedimento em si é bastante simples.
Depois da 10ª semana, recomenda-se o aborto cirúrgico, que pode demandar anestesia local e sedação, dependendo da idade gestacional. Em todos os casos, a mulher se recupera logo e o feto não sente dor, já que seu sistema nervoso ainda não se desenvolveu totalmente.