Ciência
05/04/2023 às 14:00•2 min de leitura
Uma equipe de pesquisadores brasileiros foi capaz de criar uma aproximação facial de um homem que viveu há 30 mil anos no Egito, uma novidade empolgante que pode revelar mais detalhes sobre a evolução humana.
Os restos mortais foram descobertos originalmente em 1980, em Nazlet Khater 2, um sítio arqueológico no Vale do Nilo, e mesmo considerado o exemplo mais antigo de Homo sapiens descoberto no país, pouco se sabia sobre ele.
A análise antropológica desse indivíduo enterrado ao lado de um machado de pedra revelou apenas que ele era de origem africana mesmo, com cerca de 1,60 m de altura e tinha entre 17 e 29 anos quando morreu.
(Fonte: Moacir Elias Santos/Cicero Moraes/Reprodução)
A aproximação facial foi feita por um processo chamado fotogrametria, capaz de criar modelos tridimensionais precisos, utilizando dezenas de fotos coletadas da ossada. Nesse processo, a mandíbula do homem chamou a atenção pelo quanto era diferente das versões mais modernas, e embora uma parte do crânio estivesse faltando, os pesquisadores conseguiram resolver o problema espelhando dados colhidos de tomografias computadorizadas de doadores vivos.
"O crânio, em linhas gerais, tem uma estrutura moderna, mas parte dele possui elementos arcaicos, como a mandíbula, que é muito mais robusta que a do homem moderno. Quando observei o crânio pela primeira vez, fiquei impressionado com aquela estrutura, e ao mesmo tempo, curioso para saber como ficaria depois de recriar o rosto", afirmou Cicero Moraes, designer de 3D e copesquisador do projeto.
(Fonte: Moacir Elias Santos/Cicero Moraes/Reprodução)
Enquanto o primeiro modelo foi concebido em preto e branco, com olhos fechados e em um estado neutro, o segundo recebeu uma abordagem mais artística e em cores, dando ao antigo egípcio barba e cabelo, o que de acordo com Moacir Elias Santos, primeiro autor do estudo e arqueólogo do Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardoso, é importante para despertar o interesse do público e aumentar o sentimento de identificação.
Porém, ele também explica que nenhum protótipo será completamente idêntico ao que o indivíduo era em vida. "Em geral, as pessoas acham que a aproximação facial funciona como nos filmes de Hollywood, onde o resultado é 100% compatível com a pessoa na realidade. Porém, não é bem assim. O que fazemos é aproximar o que poderia ser o rosto, com dados estatísticos disponíveis e o resultado do trabalho é uma estrutura muito simples", disse Santos.
A criação da aproximação facial desse homem é um desenvolvimento empolgante para arqueólogos e antropólogos, fornecendo um vislumbre da aparência física de um indivíduo que viveu há milhares de anos, além de apresentar mais pistas sobre nosso processo evolutivo. A esperança é que, ao realizar este procedimento com outros espécimes, os cientistas sejam capazes de entender melhor como os seres humanos mudaram ao longo do tempo, e como nos tornamos o que somos hoje.