Ciência
03/04/2023 às 09:00•2 min de leitura
Em 1998, arqueólogos fizeram uma descoberta impressionante no Vale do Lapedo, em Portugal: um esqueleto de criança que, apesar de ter as proporções de um neandertal, apresentava características de humanos modernos. Esse achado intrigante desafiou a noção de que neandertais e humanos modernos eram espécies diferentes e impossíveis de cruzar.
A criança foi enterrada no local há cerca de 29 mil anos e pertencia a uma comunidade de caçadores-coletores nômades. Ainda hoje, há poucas pistas sobre a causa da morte. Desde então, o esqueleto, conhecido como Criança de Lapedo, tem sido objeto de estudos e controvérsias na comunidade científica.
A descoberta pode ajudar a entender melhor a evolução humana e como os diferentes grupos se relacionavam entre si.
Esqueleto foi encontrado em Portugal. (Fonte: Município de Leiria/Divulgação)
O esqueleto da criança revela que ela foi enterrada em uma cova rasa com bastante cuidado e carinho. O ritual feito no enterro é perceptível graças aos adornos encontrados no túmulo, como um gorro adornado com dentes de veado e um colar feito com conchas de caramujo do mar.
A Criança de Lapedo possuía membros inferiores com a proporção semelhante a um neandertal, porém com o crânio e a mandíbula parecidos com os de um Homo sapiens moderno.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo levantaram duas hipóteses sobre a origem do esqueleto: a criança era resultado de um raro cruzamento entre um neandertal e um humano moderno ou os neandertais e os sapiens mantinham relações sexuais regulares entre si.
A análise do DNA mostrou que a criança era resultado de um cruzamento entre humanos modernos e neandertais, indicando que houve um fluxo genético entre as duas espécies, desafiando as crenças antigas de que humanos modernos e neandertais eram espécies distintas e que não eram capazes de procriar.
Criança de Lapedo é importante artefato para entendermos a evolução da nossa espécie. (Fonte: Região de Leiria/Divulgação)
Isso pode indicar que a mistura de espécies humanas era mais comum do que se pensava. Milênios depois, ainda há evidências dessa população ancestral dos neandertais em pessoas que vivem na região.
A Criança de Lapedo é tão intrigante quanto importante, pois pode ajudar a entender como se deu o processo evolutivo que nos levou até aqui.
Desde a descoberta, o esqueleto tem sido objeto de intensa pesquisa e controvérsias na comunidade científica. Algumas teorias sugerem que os neandertais e os humanos modernos eram capazes de se comunicar e trocar ideias, enquanto outras afirmam que a mistura de espécies era um resultado da violência ou coerção sexual.
De qualquer forma, o esqueleto abriu novas perspectivas sobre a evolução humana e como diferentes espécies se relacionavam entre si.
O esqueleto pode ser visto atualmente no Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa, e atrai muitos turistas. Visitá-lo é ver de perto como a evolução humana se desenvolveu e saber um pouco sobre nossos ancestrais.