Estilo de vida
03/10/2023 às 08:00•2 min de leitura
Um dos materiais de mais difícil detecção por arqueólogos, artefatos de madeira foram localizados recentemente por pesquisadores do Reino Unido às margens do rio Kalambo, na Zâmbia. Datada por luminescência em pelo menos 476 mil anos, a estrutura simples é feita por dois troncos cruzados, com um entalhe deliberadamente feito na parte superior para que ambos se encaixem em ângulos retos.
No release do estudo, publicado recentemente na revista Nature, os pesquisadores explicaram que o achado constitui o exemplo mais antigo até hoje de seres humanos construindo estruturas de madeira. O mais surpreendente é que se trata de uma civilização anterior ao Homo sapiens desenvolvendo uma tecnologia impensável para a época.
De acordo com o autor principal do estudo, Larry Barham, professor da Universidade de Liverpool, "a estrutura poderia ter sustentado uma passarela ou plataforma elevada acima do ambiente sazonalmente úmido". Essa plataforma de sustentação poderia ter servido a muitos propósitos, desde armazenamento de lenhas, ferramentas e alimentos, até base de uma cabana.
(Fonte: Barham, L. et al./Divulgação)
Pesquisadores já haviam recuperado, durante as décadas de 1950 e 1960, peças da madeira antiga que pode ter sido moldada intencionalmente, na Cachoeira de Kalambo. No entanto, os arqueólogos da época não tiveram sucesso em datar com precisão os artefatos.
As escavações só foram retomadas no mesmo local, para o estudo atual, em 2019. Em um sedimento próximo ao rio Kalambo, eles descobriram cinco objetos com sinais de modificação intencional: uma ponta afiada que se encaixava na ponta de um bastão, além de outros objetos que poderiam ter sido usados para escavar ou como cunha.
Já no caso dos dois troncos da suposta estrutura de madeira, o de cima tem 1,4 metro de comprimento e pontas afiladas, enquanto o de baixo é um pouco maior (1,5 metro) e traz os entalhes escavados.
(Fonte: Barham, L. et al./Divulgação)
Quando os colonizadores chegaram à região, em 1953, atraídos principalmente por uma espetacular cacheira de 235 metros de altura, perto da fronteira de Zâmbia com a Tanzânia, não tinham ideia de que o local podia ser um sítio arqueológico. A datação das madeiras, preservadas por um lençol freático permanente, foi feita de forma indireta, aplicando luminescência aos minerais na areia que rodeava os objetos.
"É extraordinário que a madeira tenha permanecido no lugar e intacta durante meio milhão de anos", afirmou à CNN o professor Geoff Duller, professor da Universidade de Aberystwyth, coautor do trabalho.
Além disso, as descobertas contestam uma visão até então dominante de que os grupamentos hominídeos da Idade da Pedra levavam vidas nômades, disse Duller. Além de exigir habilidades, ferramentas e planejamento, "o esforço envolvido sugere que os fabricantes permaneciam no local por longos períodos", conclui o estudo.