Artes/cultura
03/02/2024 às 13:00•2 min de leitura
Quando se discute qual foi o objeto mais rápido já lançado pelos seres humanos ao espaço, as opiniões se dividem entre poderosos foguetes modernos e os lendários jatos hipersônicos. No entanto, a resposta correta é inusitada: uma tampa de bueiro de 10 cm de espessura, feita de aço e pesando 900 kg. Ela foi lançada por acidente, pelos EUA.
Mais impressionante ainda, esse objeto, usado durante um teste nuclear chamado de Pascal-B em 27 de agosto de 1957, foi soldado sobre um poço subterrâneo de 150 metros de profundidade para "conter" a explosão da bomba. O astrofísico Robert Brownlee, do icônico Laboratório Nacional de Los Alamos, previu que aquilo não iria funcionar.
E, logicamente, não funcionou mesmo. Durante a detonação do artefato nuclear, a explosão subiu direto pelo poço de testes, arremessando a pesada tampa em direção à estratosfera. Uma câmera que filmava o experimento à velocidade de um quadro por milissegundo conseguiu uma imagem parcial do objeto em um único frame, o que não permitiu que a velocidade pudesse ser aferida.
(Fonte: USA Department of Energy/Reprodução)
O Projeto Manhattan, programa de pesquisa altamente confidencial mostrado recentemente no filme Oppenheimer (2023), não fabricou apenas as bombas nucleares que destroçaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão. A iniciativa foi o ponto de partida de um extenso programa nuclear que, somente entre 1945 e 1992, detonou mais de mil ogivas atômicas norte-americanas.
Para proteger a população norte-americana, o governo dos EUA decidiu testar essas armas de destruição em massa em áreas isoladas, como nos desertos do Novo México e Nevada, e também nas Ilhas Marshall.
Nesse arquipélago, os efeitos desses testes ainda hoje são sentidos pela população local. Algumas áreas, como o Atol de Bikini e Enewetak continuam hoje mais radioativas do que Chernobyl. A partir de 1962, todos os testes nucleares passaram a ser feito no subsolo.
Quando Brownlee projetou o primeiro teste nuclear subterrâneo, chamado de Pascal-A, a bomba foi colocada na parte inferior de uma coluna oca, com 1 metro de largura por 150 metros de profundidade, e a tal tampa de aço foi arremessada para o espaço.
O teste foi repetido com o nome de Pascal B, no qual Brownlee recebeu ordens para calcular a onda de choque da bomba, incluindo o tempo e detalhes ao atingir a contenção de metal.
Em um ensaio publicado em 2002 no site Nuclear Weapon Archive, o dr. Brownlee relata que estimou o impulso da tampa em “seis vezes a velocidade de escape da terra”, que é a aceleração necessária para um objeto fugir da atração gravitacional do planeta, fixada em 11,2 km/s. Isso significa que a tampa está em algum lugar do espaço, viajando a uma velocidade aproximada de 242 mil km/h.