Ciência
10/12/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 10/12/2024 às 09:00
Quando 101 moedas de ouro de um naufrágio espanhol de 1715 foram encontradas na costa da Flórida, parecia um conto clássico de tesouros perdidos e encontrados. Mas o que era para ser uma celebração da história acabou virando um caso policial digno de filme. Das moedas descobertas em 2015 por uma equipe de salvamento contratada, 50 foram desviadas e escondidas pelos próprios descobridores, iniciando uma saga que envolveu investigações, roubos e até manobras para enganar novos investidores.
A história começa em julho de 1715, quando uma frota espanhola carregada de ouro e prata naufragou em um furacão ao largo da costa leste da Flórida. Os tesouros, destinados a aliviar a crise financeira da Espanha após a Guerra de Sucessão Espanhola, afundaram com 11 dos 12 navios da frota. Apenas um navio sobreviveu, enquanto o resto foi tragado pelas águas, levando consigo mais de US$ 400 milhões em riquezas e centenas de vidas humanas.
Séculos depois, os destroços dessa frota, conhecidos como Frota de 1715, tornaram-se uma atração para caçadores de tesouros. A Treasure Coast (Costa do Tesouro), como a região passou a ser chamada, é repleta de histórias de descobertas fascinantes. Em 2015, uma empresa chamada 1715 Fleet - Queens Jewels, LLC, especializada na recuperação de artefatos históricos, contratou a família Schmitt para explorar os naufrágios.
Eles anunciaram a descoberta de 51 moedas de ouro, além de uma corrente de ouro de 12 metros, avaliadas em mais de US$ 1 milhão. O que ninguém sabia é que havia mais 50 moedas escondidas.
O esquema veio à tona quando Eric Schmitt, membro da equipe e da família envolvida, tentou vender algumas das moedas entre 2023 e 2024.
Uma investigação conduzida pelo FBI e pela Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida (FWC) revelou não apenas o roubo, mas também que Eric havia “plantado” três moedas no fundo do mar para enganar novos investidores e reforçar a credibilidade de sua equipe. Metadados digitais e geolocalização ajudaram a conectar Eric às moedas, incluindo fotos tiradas em sua própria casa.
Até agora, 37 das 50 moedas desaparecidas foram recuperadas, avaliadas em mais de US$ 1 milhão. Algumas estavam escondidas em cofres, outras foram vendidas a casas de leilão ou indivíduos que nem sequer sabiam que eram roubadas. As investigações continuam para localizar as 13 moedas restantes e responsabilizar os envolvidos.
A 1715 Fleet - Queens Jewels, LLC, declarou-se “chocada e decepcionada” com o roubo, mas colabora com as autoridades para garantir que as moedas retornem aos seus legítimos guardiões.
É importante destacar que esse caso vai além do crime moderno e toca em um tema maior: a preservação do patrimônio cultural. Para historiadores e arqueólogos, os naufrágios da Frota de 1715 são uma cápsula do tempo, oferecendo um vislumbre das perigosas expedições marítimas da época e das riquezas que moviam impérios. A ganância moderna, no entanto, ameaça essa herança.
A saga das moedas de ouro — da tempestade mortal de 1715 ao roubo engenhoso de 2015 — mostra que, mesmo séculos depois, o apelo do ouro perdido continua irresistível. Enquanto as buscas pelas moedas desaparecidas seguem, a história desse naufrágio épico segue inspirando tanto exploradores quanto os que sonham com riquezas escondidas.