Estilo de vida
26/09/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 26/09/2024 às 15:00
Um estudo recente contestou a teste geralmente aceita de que o canabidiol (CBD), o componente não psicoativo da maconha (cannabis), é capaz de reduzir os efeitos intoxicantes do componente ativo, o delta-9-tetraidrocanabinol (THC). Após um ensaio clínico duplo-cego, os autores concluíram que não existe afinal esse “cabo de guerra” entre os dois canabinoides.
Em doses mais altas, o CBD chegou mesmo a potencializar possíveis efeitos adversos do THC. Não se trata aqui da experiência psicodélica, mas de consequências indesejadas ou potencialmente prejudiciais que podem ocorrer como efeitos colaterais, tanto quando a substância é usada terapeuticamente quanto no uso recreativo.
Os pacientes que, durante os experimentos, tomaram 9 mg de THC e 450 mg de CBD via oral, relataram se sentir mais “chapados” no corpo e na mente, do que quando tomaram só o THC. Análises de sangue revelaram concentrações mais elevadas de THC naqueles casos, o que levou os autores a suspeitar que doses altas de CBD podem inibir o metabolismo do THC no corpo, aumentando seus efeitos.
Para testar a hipótese de que o CBD neutraliza os efeitos indesejados do THC, ou seja, aumenta a tolerabilidade da canábis como analgésico, a equipe realizou um ensaio aleatório, duplo-cego, com 37 voluntários adultos saudáveis, de idades entre 18 e 45 anos. Pacientes com experiência anterior com a maconha não usaram a droga por pelo menos três semanas antes do experimento.
Em cinco visitas diferentes, os participantes receberam via oral: um placebo duplo, THC 9 mg com placebo CBD, ou THC 9 mg com 10, 30 ou 450 mg de CBD. Nem os participantes, nem os pesquisadores sabiam quem estava tomando o quê.
Nas horas seguintes à ingestão, os participantes expressaram seus sentimentos subjetivos de dor e intoxicação medidas por dois testes padronizados. Amostras de sangue também foram coletadas antes da tomada dos comprimidos e depois em vários intervalos até oito horas.
Publicado na revista Clinical Pharmacology & Therapeutics, o estudo concluiu que doses mais baixas de CBD oral não tiveram qualquer efeito nos efeitos intoxicantes do THC, mas doses mais elevadas de CBD influenciaram de forma substancial a maioria das medidas psicoativas avaliadas.
Segundo a equipe, uma "interação medicamentosa tendo o CBD como substância perpetradora e o THC como substância vítima parece ser a explicação mais provável para os achados farmacocinéticos deste estudo". Perpetradora é a substância que causa alteração no metabolismo ou efeito da outra, que é a vítima.
Ao final, os autores ressaltaram que o estudo teve uma amostra muito reduzida e considerou exclusivamente a ingestão oral de CBD e THC.