Ciência
03/12/2018 às 06:00•5 min de leitura
Nós aqui do Mega Curioso já falamos em diversas ocasiões sobre os campos de trabalho e de extermínio criados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas nunca tínhamos fala sobre os campos de prisioneiros para os quais os soldados que eram capturados pelos alemães eram enviados. Pois, hoje, convidamos você para nos acompanhar em uma breve viagem ao passado — não a um passado tão distante, mas a um certamente obscuro e dramático, e conhecer um pouquinho de como era a rotina dos militares que caíam nas mãos das tropas de Hitler e seus seguidores.
Pois é, caro leitor. Além dos campos de trabalho, de concentração e de extermínio, durante a Segunda Guerra Mundial proliferaram os campos de prisioneiros — locais para onde os soldados capturados pelos alemães eram enviados e mantidos. E, desde a invasão da Polônia, evento que desencadeou o conflito global, com a detenção de militares poloneses, passando pelos combatentes apreendidos após bombardeios, ofensivas e todo tipo de campanha e ofensiva, os nazistas acabaram com centenas de milhares de oficiais sob seu poder.
Milhares de prisioneiros russos em campo improvisado pelos alemães (Wikimedia Commons/Bild Bundesarchiv)
Não é difícil imaginar que a vida nos campos de prisioneiros não era nada, nada fácil. A permanência nesses locais envolvia muito mais do que apenas privar os soldados de sua já limitada a liberdade e, como a Alemanha tinha recursos bastante limitados — uma vez que tudo vinha sendo investido e injetado no esforço de guerra —, o bem-estar dos combatentes estava bem longe de ser uma prioridade.
Assim, apesar de os barracões construídos nos campos oferecerem um teto sobre a cabeça dos prisioneiros, essas estruturas não garantiam muita proteção contra os elementos, especialmente durante os intensos invernos europeus.
Campo de prisioneiros (The Journal)
Ademais, a comida era incrivelmente escassa e, embora o estabelecido pela 3ª Convenção de Genebra fosse que os soldados recebessem a mesma quantidade de calorias diárias que um civil alemão (que não estivesse trabalhando) — ou seja, por volta de 1,9 mil calorias/dia —, os combatentes não chegavam a consumir nem o equivalente a 1,5 mil. Não é de se estranhar, portanto, que a maioria dos prisioneiros tenha apresentado uma perda de peso média de quase 20 quilos durante sua estadia nos campos.
Embora muitos poloneses e eslavos tenham sido capturados pelos alemães, havia vários norte-americanos, canadenses, britânicos e russos entre os prisioneiros — e o tratamento que os coitados recebiam não era nada imparcial. Os nazistas sentiam especial antipatia pelos soldados do Exército Vermelho e tratavam os integrantes capturados pior do que se eles fossem animais.
Prisioneiros russos em Mauthausen (Wikimedia Commons/Bild Bundesarchiv)
Além de serem especialmente cruéis nas agressões, existem relatos de que, em alguns campos, os soldados russos chegaram a ser usados como alvos pelos nazistas durante práticas de tiro. Os alemães também quase matavam esses prisioneiros de fome, fornecendo a eles ainda menos comida do que aos demais — e é por isso que, muitas vezes, os russos (com sua característica determinação e espírito... russo) se lançavam em expedições noturnas nas quais capturavam os cães de guarda dos nazistas, matavam e comiam os animais — e deixavam suas peles estendidas pelo campo como sinal de provocação. Seja como for, mais de 3 milhões desses bravos prisioneiros morreram nos campos.
Com relação aos prisioneiros outras nacionalidades, britânicos e norte-americanos eram tratados de forma mais ou menos parecida e mais amena. No entanto, a atitude dos soldados era bem diferente no que se referia ao cotidiano nos campos.
Durante inspeção (Wikimedia Commons/Domínio Público)
Os Yankees — que haviam aderido à guerra anos depois do que os europeus, tinham um distanciamento natural por conta de sua origem geográfica, por não estarem diretamente ligados aos eventos que desencadearam o conflito e por serem de uma nação que, naquele momento, se encontrava em uma situação mais estável economicamente — eram mais propensos a reclamar e brigar por melhores condições nos campos de prisioneiros.
Esse comportamento, por sua vez, punha os oficiais de patentes mais elevadas em uma situação complicada, uma vez que eles eram encarregados de tentar manter a ordem local. Os britânicos, por outro lado, seguiam uma atitude aparentemente impassível e resignada diante de sua situação e optavam por sobreviver por meio da disciplina e da ajuda mútua.
Mas a fome e os maus-tratos não eram os únicos problemas que afligiam os soldados. A sua humilhante situação como prisioneiros, a experiência de estar no meio de uma sangrenta guerra — sabendo que seus companheiros estavam morrendo aos milhares nas frentes de batalha — e o tédio podiam ter efeitos devastadores. Assim, para ocupar as mentes com outras coisas, diversos militares aproveitaram o tempo livre para ler e até estudar, e muitos inclusive chegaram a se inscrever em cursos por correspondência, para conquistar novas qualificações uma vez que o conflito terminasse.
Entretendo a galera (Creative Boom)
Porém, apesar dos pesares, outros tantos soldados encontravam dentro de si inspiração e criatividade para montar peças teatrais e entreter os demais. Sim, caro leitor! Segundo os sobreviventes, os prisioneiros usavam caixas da Cruz Vermelha como bancos e latas de biscoitos vazias como refletores de luz, e não nunca podiam faltar “atores” interpretando papéis femininos para divertir a plateia.
Humor em tempos tenebrosos (Creative Boom)
E falando em mulheres — mas, desta vez, das de verdade —, rolaram vários romances entre os prisioneiros de guerra e as habitantes locais, visto que os soldados muitas vezes eram alistados para a realização de trabalhos forçados nas cidades e nos vilarejos próximos aos campos. Com frequência, as atividades consistiam em limpar as ruas dos escombros deixados pelos bombardeios conduzidos pelos aliados, e tudo era feito sob o atento olhar de guardas nazistas.
Só que, sabe como são os humanos, né? A galera encarregada de ficar de olho nos prisioneiros caía facilmente em tentação e fazia vista grossa quando os soldados davam suas escapadinhas noturnas em troca de café, cigarros e chocolate — estamos falando em tempos de guerra, quando esses luxos todos eram pra lá de escassos. As moças locais que se rendiam aos encantos dos estrangeiros também ganhavam agradinhos de vez em quando, e muitos romances floresceram dessa forma.
Prisioneiros de guerra (Glogster)
Tanto que inclusive aconteceu de prisioneiros realmente se apaixonarem, abandonarem tudo, desertarem seus exércitos de origem e se alistarem aos dos inimigos – situação bastante desconfortável e perigosa para todos, especialmente para o soldado envolvido na relação, uma vez que esse tipo de atitude podia trazer consequências bem graves.
Os nazistas e os fascistas, como todos sabem, estavam do mesmo lado da guerra e alimentavam uma forte aversão aos ideais comunistas. Acontece que entre os prisioneiros também existiam aqueles que eram fortemente contrários ao comunismo e simpatizavam mais com os propósitos defendidos pela extrema direita; assim, “virar a casaca” foi uma consequência natural para alguns deles. Com isso, ocorreram muitos casos de militares que abandonaram seus próprios exércitos e se uniram aos inimigos para lutar em unidades internacionais.
Situação dramática (Wikimedia Commons/Bild Bundesarchiv)
Entretanto, nem todos mudaram de lado voluntariamente... Sabe os romances que a gente comentou acima, né? Acontecia de os guardas subornados e até as moças entregarem os prisioneiros às autoridades — e, como castigo, os soldados serem forçados a se alistar às tropas inimigas.
Já com relação às tentativas de fuga, não foram poucas ao longo da guerra! Afinal, uma coisa que os prisioneiros tinham de sobra era tempo para ficar bolando planos mirabolantes a fim de escapar dos campos — ou, no mínimo, manter os alemães ocupados e, se possível, sabotar os recursos dos nazistas.
Grupo reunido (392nd Bomb Group)
De modo geral, o planejamento ficava a cargo de um único oficial por campo — para que não virasse bagunça e um grupo não acabasse interferindo no outro —, e os esforços incluíam falsificar documentos, elaborar ferramentas e inclusive conseguir uniformes alemães e roupas de civis para serem usadas depois da fuga. Aliás, os britânicos e os norte-americanos contavam com unidades focadas especificamente em ajudar nas escapadas.
Chamadas MI9 e MIS-X — a primeira era a unidade britânica e a segunda, a norte-americana —, elas tinham como missão dar um jeito de passar aos prisioneiros informações, mapas, componentes de rádio, para que os soldados mantivessem contato, e apetrechos que pudessem ser úteis nas fugas. Muitas tentativas acabaram sendo frustradas, mas outras tantas deram certo e acabaram com os prisioneiros chegando a territórios neutros e inclusive regressando para seus países.
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