Ciência
20/06/2022 às 09:02•3 min de leitura
Como civilizações morrem? Para os arqueólogos que estudaram da ascensão à queda do Império Romano, dos maias, hindus e vikings, ficou claro que os movimentos populacionais incontroláveis, novas doenças que levaram à epidemias; falta de tratamento; Estados falidos que culminaram no aumento de guerras; colapso das rotas comerciais que levaram à fome em grande escala; e mudanças climáticas, foram os 5 principais fatores para que esses povos desaparecessem na malha da História.
Todos esses aspectos fazem parte do colapso social, sempre associados à catástrofe natural como fator agravante, podendo se encaminhar para uma crise tão definitiva que acaba alcançando um estado primitivo, sendo absorvida por uma sociedade mais forte ou desaparecendo completamente, como nos exemplos acima.
Mas não é de hoje que a sociedade humana está a caminho de uma derrocada. Um relatório publicado no livro The Limits to Growth, ainda em 1972, elaborado por uma equipe de cientistas do MIT, indica que a civilização industrial está fadada ao desmoronar se corporações e governos continuarem a buscar um crescimento econômico contínuo a todo o custo.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Os pesquisadores previram 12 cenários possíveis para o futuro, sendo que na maioria deles, foi calculado que, em certo ponto, os recursos naturais se tornariam tão escassos que o crescimento econômico seria impossível, fazendo despencar o bem-estar pessoal da humanidade. O crescimento atingiria seu pico mundial na década de 2040, depois sofreria uma queda vertiginosa com a população global, disponibilidade de alimentos e recursos naturais. Não seria exatamente o fim da raça humana, mas apenas um ponto de virada social que redefiniria os padrões de vida.
Mas se, por alguns dos possíveis cenários de extinção, como invernos nucleares ou colapso do sistema como o conhecemos, a civilização humana fosse dizimada e apenas duas pessoas restassem, seria possível que o planeta fosse repovoado?
(Fonte: The Metropolitan Museum of Art/Reprodução)
Desde o começo da humanidade, a religião acha que é possível duas pessoas, como no caso de Adão e Eva, darem início a uma sociedade que já alcança 8 bilhões de indivíduos – ainda que a interpretação do mito seja equivocada até hoje.
Em Ragnarok, o mito nórdico do fim do mundo, em que resta apenas dois sobreviventes, Lif e sua esposa Lifthrasir, após se esconderem de um desastre natural, continuam a renovar a humanidade em um novo mundo.
De cristãs, islâmicas ou nórdicas, nenhuma dessas crenças tradicionais levaram em conta as complicações genéticas dessas reproduções em massa a partir do mesmo indivíduo, tampouco como a biologia funcionaria nesses casos.
Do ponto genético, seria possível repovoar o planeta, porém as doenças acompanhariam tudo como consequência. Na realeza europeia, a hemofilia se tornou um problema comum; o daltonismo perseguiu os ilhéus pingaleses; a polidactilia (dedos extras) dominou os povos religiosos Amish que se espalharam pelos Estados Unidos e Canadá; e os judeus ashkenazi tiveram uma taxa mais alta de Tay Sachs e fibrose cística. Tudo isso porque esses grupos surgiram a partir de um pequeno grupo e possuía contato limitado com o mundo exterior.
(Fonte: The Scope/Reprodução)
Isso acontece porque o ser humano carrega as sementes de pelo menos 5 ou 10 doenças genéticas no DNA, mas a maioria não as desenvolve porque só têm uma cópia desses genes recessivos. Ou seja, seria necessário ter duas cópias da versão da doença do gene para realmente obtê-la.
No entanto, ainda que o indivíduo carregue uma cópia normal e uma cópia da doença, acaba se tornando um portador e, ao encontrar com outro igual, há 25% de chance de que um filho deles carregue a doença. Em um grupo pequeno que se relaciona, até metade das pessoas podem ser portadoras ativas do gene, aumentando a chance de proliferação da doença, figurando o que é chamado de "efeito fundador" na Biologia.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Dessa maneira, quando uma população é formada por poucas pessoas, as doenças genéticas tendem a ser muito mais comuns. Esse cenário se desenvolveria a longo prazo, em centenas de milhares de anos, após os grupos terem se dividido e formarem novos com bagagem genética diferente.
Ainda que nenhuma das pessoas carregassem doenças preexistentes, novas mutações acontecem o tempo todo, algumas inofensivas, outras prejudiciais e poucas delas realmente benéficas. Com muitas pessoas por um longo período de tempo, as mutações genéticas ruins estão fadadas a se desenvolver. Um exemplo recente disso é a incidência dos casos de uma doença chamada neurofibromatose (NF), cuja metade de todos os novos casos são devidos a novas mutações.
Portanto, no final das contas, tudo dependeria de quem seriam os fundadores. Eles determinariam a quantidade das complicações.