Artes/cultura
29/09/2022 às 06:48•2 min de leitura
Pesquisadores da Universidade of Birmingham, Inglaterra, descobriram que pesadelos frequentes e noites mal dormidas podem ser um sinal de um risco aumentado de geração de demência em pessoas acima de 35 anos. Segundo estudo publicado no periódico The Lancet, sonhos com altos níveis de estresse têm chances de impactar negativamente a memória de homens e mulheres no longo prazo e causar danos cognitivos — em sua maioria reversíveis.
O projeto levou quase dez anos para chegar em conclusões concretas e contou com a participação de mais de 3.000 voluntários. O grupo, distribuído em duas vertentes de análises — cerca de 600 pessoas com idades entre 35 e 64 anos e 2.600 pessoas com 79 anos ou mais —, teve como suporte "dados de três grandes estudos americanos sobre saúde e envelhecimento" e estava completamente livre de demência no momento inicial da pesquisa.
Como o cérebro naturalmente cria sonhos e traz significados importantes para a vida humana por meio de pensamentos inconscientes, acredita-se que essas projeções do sono desempenhem um papel central na psiquê em todas as etapas do crescimento e evolução. E apesar de muito pouco ser conhecido sobre a forma de operação dessa ferramenta na mente, sua atuação está diretamente relacionada à saúde cognitiva.
Segundo o neurologista e líder da pesquisa Abidemi Otaiku, participantes que afirmaram sofrer pesadelos com uma maior frequência — via questionário — foram utilizados como o corpo central da pesquisa. A primeira faixa de idade foi estudada por cinco anos, enquanto membros com 79 anos ou mais emprestaram seus padrões clínicos por nove anos.
Após esse período, foi determinado que voluntários de meia-idade tinham até quatro vezes mais chances de desenvolver déficit cognitivo na década seguinte, enquanto os mais velhos tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticados com demência. O quadro, caracterizado pelo surgimento de um declínio rápido na memória e nas habilidades de pensamento ao longo do tempo, também ocorre, segundo os resultados, com maior frequência em homens do que em mulheres.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
"Por exemplo, homens mais velhos que tinham pesadelos toda semana eram cinco vezes mais propensos a desenvolver demência em comparação com homens mais velhos que não relataram pesadelos. Nas mulheres, no entanto, o aumento do risco foi de apenas 41%. Encontrei um padrão muito semelhante no grupo de meia-idade", esclarece Otaiku para a publicação The Conversation.
Suspeitas apontam que noites mal dormidas por meio de sonhos estressantes podem ser um primeiro indicativo para o aumento de riscos de demência ao longo prazo. E mesmo quem não possui pesadelos diariamente tem chances de ser impactado pela condição, já que essas sensações incômodas, caso ocorram regularmente, possuem uma tendência natural de trazer maus resultados nas décadas seguintes.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
Felizmente, caso os pacientes acionem o tratamento no tempo certo, é possível evitar que haja o acúmulo de proteínas anormais ligadas à doença de Alzheimer, por exemplo. Além da prevenção, outros métodos aprimoram as habilidades cognitivas e permitem o desenvolvimento de pensamentos positivos e mais leves para voluntários das mais diversas faixas etárias.
O neurologista aponta que o próximo passo do estudo é a investigação em pessoas mais jovens. A ideia é compreender como os pesadelos se desenvolvem desde os primeiros estágios da vida e desmascarar as principais características do sonho, a fim de esclarecer questões sobre frequência, vivacidade e natureza do fenômeno.