A vida das mulheres menstruadas nos campos de concentração

01/03/2023 às 04:002 min de leitura

Atualmente, a menstruação perdeu um pouco do tabu que envolvia esse fato comum da vida das mulheres décadas atrás. Se hoje esse tema é discutido mais livremente, especialmente envolvendo questões de saúde pública, como a pobreza menstrual, antigamente não era assim.

Nas grandes guerras, como na Segunda Guerra Mundial, além de todos os horrores vividos pelas mulheres nos campos de concentração, elas tinham que lidar com outra questão: a menstruação, que antes era algo privado e nos campos passou a ser uma questão pública e humilhante.

A menstruação nos campos de concentração

(Fonte: German Federal Archives /Bundesarchive/ Britannica/Reprodução)(Fonte: German Federal Archives /Bundesarchive/ Britannica/Reprodução)

Naquela época, a menstruação, além de não ser discutida, era encarada como uma vergonha pela sociedade. Esse fator, aliado a muitos outros que discutiremos nos próximos tópicos, acabou por fazer, segundo alguns pesquisadores do tema, com que o organismo da própria mulher atrasasse a menstruação, isto é, devido ao medo constante, pressão, desnutrição e estresse causados pela vivência incerta nos campos.

Interrupção proposital

(Fonte: US Holocaust Memorial Museum/ History Today/ Reprodução)(Fonte: US Holocaust Memorial Museum/ History Today/ Reprodução)

Em um artigo publicada no site especializado Ciências Sociais e Medicina, a Dra. Peggy J. Kleinplatz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Ottawa, aponta para a possibilidade de que a interrupção repentina da menstruação entre as mulheres judias nos campos de concentração nazistas ocorriam de forma bastante uniforme para que a origem do problema estivesse apenas nos traumas e na desnutrição vivida por elas.

Em seu estudo, a Dra. Kleinplatz, fez um amplo levantamento reunindo evidências históricas e testemunhos de pessoas que sobreviveram aos campos de concentração. A partir disso, a especialista apresentou uma hipótese extra: para interromper os ciclos menstruais das mulheres, esteroides sintéticos eram adicionados as rações diárias distribuídas às cativas, muito possivelmente, visando interromper o funcionamento normal dos ciclos menstruais, além de prejudicar a capacidade delas de terem filhos.

(Fonte: Montreal Holocaust Museum/ Reprodução)(Fonte: Montreal Holocaust Museum/ Reprodução)

Algumas sobreviventes entrevistadas pela Dra. Kleinplatz disseram haver a suspeita de que algo era colocado nas rações alimentares, e que isso fez com que algumas mulheres parassem de menstruar.

De acordo com uma mulher que trabalhou na cozinha do campo de concentração de Auschwitz por vários meses quando era adolescente, todos os dias guardas nazistas armados traziam pacotes de produtos químicos que eram dissolvidos nas sopas intragáveis dadas como alimento às mulheres.

Aliás, isso é muito mais do que história. A prática de rações contaminadas foi confirmada com a descoberta de um relatório de 1969, que trazia alguns questionamentos feitos aos cozinheiros de Auschwitz.

Ainda segundo a referida pesquisa, o impacto a longo prazo nas sobreviventes foi significativo. De 197 gestações confirmadas, 24,4% acabaram em abortos espontâneos, enquanto 6,6% terminaram em natimortos. Os nascidos vivos tinham que enfrentar os obstáculos de uma saúde frágil.

Sobrevivência e solidariedade

(Fonte: AIPN/ Institute of National Remembrance/ Reprodução)(Fonte: AIPN/ Institute of National Remembrance/ Reprodução)

As mulheres nos campos de concentração costumavam rasgar um pedaço de pano de alguma de suas vestes que era guardado como se fosse uma joia rara (pois era exatamente isso) para serem usados nos momentos menstruais. Esses pequenos panos, inúteis em outras circunstâncias, ainda arriscavam serem roubados.

Também há relatos de mulheres que conseguiram escapar de experimentos nazistas graças a menstruação. Uma das histórias mais comoventes sobre isso é a de Elizabeth Feldman, que pegou as roupas de sua irmã que estavam sujas com o sangue da menstruação e as vestiu. Dessa forma, conseguiu enganar os médicos afirmando estar menstruada no dia em que foi escolhida para os testes, escapando, assim, dos terríveis experimentos que envolviam até injeções de substâncias químicas nos úteros.

A solidariedade e compreensão entre as mais velhas e as mais novas nos campos de concentração também era algo bastante presente. Não raro, as mulheres adultas ajudavam as adolescentes cujas famílias foram assassinadas a entenderem o que estava acontecendo com seus corpos e o que fazer dali em diante.

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