Ciência
28/06/2021 às 03:00•3 min de leitura
O dia 30 de junho marca a celebração do Dia do Bumba meu boi, uma das festas folclóricas mais importantes do Brasil. Uma tradição típica das regiões Norte e Nordeste, a data comemorativa reúne uma série de apresentações com muita música, dança, teatro e alto astral para contar a lenda da morte e ressurreição de um boi.
Apesar de trazer mais representatividade para as culturas das regiões mais ao norte, essa manifestação cultural atualmente pode ser vista em todos os cantos do país e possuí forte ligação com diversas tradições africanas, europeias e indígenas. Atualmente, a festividade é considerada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
(Fonte: Wikimedia Commons)
Na visão de historiadores, a manifestação teve origem na cultura de países da Europa, especialmente em Portugal e na Espanha, durante o século XVI. Posteriormente, ela foi trazida para o Brasil por meio dos colonizadores portugueses e acabou se misturando à cultura dos escravos africanos e dos povos indígenas locais.
Principalmente no Nordeste, o nascimento do bumba meu boi também é associado à expansão do chamado Ciclo do Gado no século XVIII. Neste período, o gado era de extrema importância para a economia local e o boi era considerado um animal com grande simbologia para a história da região.
Os primeiros registros oficiais, que ocorreram no Maranhão, mostram que a festa era predominante entre os povos negros, o que sempre gerou repressão por uma parcela elitista da sociedade. Em 1861, a celebração chegou a ser proibida e foi paralisada por sete anos. Mesmo após a retomada, a realização dos batuques só podia ser feito mediante autorização da polícia até 1913.
(Fonte: Wikimedia Commons)
As celebrações de bumba meu boi, ou boi-bumbá como também é chamado, são inspiradas no "auto do boi", um conto popular passado por gerações que relata a história de um casal de escravizados que precisou ressuscitar um boi para escapar do desejo de vingança de um fazendeiro.
Segunda a lenda, Mãe Catirina e Pai Francisco viviam dentro de uma fazenda no sertão. Grávida, Catirina sentiu um desejo incessante de comer a língua do boi mais bonito do dono local. Para satisfazer o desejo de sua amada, o marido então decidiu roubar o boi preferido pelo dono da fazenda e matá-lo para que sua mulher pudesse comer sua língua.
Não demorou para que vaqueiro ficasse sabendo do roubo e avisasse ao proprietário das terras sobre o acontecido. Enfurecido pela perda de seu animal, o fazendeiro realiza um juramento de vingança e parte em perseguição ao casal. No fim do auto, Catirina e Francisco conseguem ressuscitar a criatura, que tem sua vida celebrada em uma festa criada pelo fazendeiro.
O auto do boi, mais do que uma celebração à vida, mostra a representatividade do boi para as diferentes camadas da sociedade. Para os escravizados, o animal era visto como companheiro e sinônimo de força no trabalho rural. Para os proprietários de fazendas, os bois eram mais como um investimento seguro e uma fonte de renda.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Tradicionalmente, a encenação do auto do boi durante a festa do bumba meu boi é feita com um boi produzido com armações feitas de madeira e revestida com tecidos bordados e coloridos. De baixo dessa estrutura, os movimentos do animal são controlados por um homem em posse da fantasia — especialmente da parte chamada de "miolo do boi".
Na maioria das festividades espalhadas pelo país, existem alguns personagens que são sempre fixos para o prosseguimento da história. São eles:
(Fonte: Wikimedia Commons)
Principalmente no Maranhão, onde a festividade teve origem no Brasil, existe grande influência do catolicismo sobre a celebração. Sendo assim, São João é considerado o principal padroeiro da data. Além dele, os foliões também dividem a atenção com São Pedro e São Marçal.
Apesar da predominância cristã no simbolismo da festa, o Dia do Bumba meu boi também apresenta elementos do sincretismo ao misturar santos juninos com orixás e seres mágicos. Em algumas versões, os cultos afro-brasileiros, como o tambor de mina e terecô, são outro segmento importante.
O nome da celebração pode variar dependendo da região do país onde a festa está situada e alguns elementos da encenação também. Os diferentes estilos de grupo são chamados de sotaque, apresentando uma gama maior de ritmos musicais, instrumentos e vestimentas.