Artes/cultura
09/10/2021 às 13:00•2 min de leitura
Há quase 20 anos, mais de mil norte-americanos se abrigam nas instalações de uma rede de esgoto fundada na década de 1990 na cidade de Las Vegas. Conhecido como “Povo Toupeira”, as pessoas que perderam seu caminho enquanto viviam na superfície ocupam o subsolo em busca de um lar, à medida que enfrentam problemas como escuridão, falta de segurança e medo constante do despejo.
Construída pela empresa Hydro Conduit Corporation, a rede de esgotos consiste em um túnel de drenagem projetado para proteger o destino turístico das mais violentas enchentes. O plano da companhia era fabricar uma seção de 1,6 mil quilômetros de extensão para ser concluída em até 25 anos. Mas o que era apenas um artifício de infraestrutura social se tornou a única esperança para ex-presidiários, dependentes químicos e pessoas marginalizadas.
Os túneis de concreto onde o “Povo Toupeira” mora sofrem efeitos climáticos e, enquanto fornecem condições relativamente positivas para os moradores durante a época mais seca do ano, também geram enchentes assustadoras em estações chuvosas que chegam a varrer todos os pertences dos habitantes pela grande e escura extensão subterrânea.
(Fonte: Vice/Reprodução)
Sem qualquer tipo de câmera de vigilância ou sistema social que forneça segurança adequada, os residentes relatam rumores sobre assassinatos, violência e prática de atividades ilegais, sendo uma espécie de “Terra de Ninguém” que até mesmo as autoridades e policiamento buscam manter distância. Apesar disso, são constantemente realizados check-ups de despejo, e muitos são forçados a sacrificar o único local que os mantêm confortáveis.
A realidade dificultou a vida no subsolo, e muitas vezes o pouco material que alguns moradores possuem deve ser suficiente para ter o mínimo de conforto em meio às ameaças. Sem banheiro, cozinha, instalações seguras ou qualquer tipo de garantia, o “Povo Toupeira” improvisa na construção de coisas básicas como tapetes, aquecedores e fogões, enquanto lida física e mentalmente com tragédias do passado.
“Não dá para saber se é dia ou noite”, diz Shay (53), uma das moradoras dos túneis, em entrevista à Insider. “Às vezes, quando nosso relógio marca seis horas, você não sabe se são seis horas da manhã ou da noite. Se alguma luz entra no fim do túnel, sabemos: é dia.”
(Fonte: Jacob Kepler — Business Insider/Reprodução)
Parte dos objetos das barracas são coletados em expedições a lixões e aterros na superfície, e cada vez que há uma nova enchente os habitantes são obrigados a começar suas vidas novamente. Com o tempo seco, o “Povo Toupeira” enfrenta fortes ondas de calor, riscos de insolação e chances de perder o pouco alimento devido às más condições de armazenamento.
“É assim que a sociedade nos trata: eles querem que sejamos invisíveis — mas nós estamos aqui, queremos ser vistos. Nossa história deve ser ouvida”, diz Anthony (43), também à Insider.
Os sem-teto seguem com pouca ajuda externa e a maior parte das contribuições ocorre internamente, com moradores se ajudando em tudo que for possível e revezando coletas fora das instalações. Felizmente, grupos como o HELP — que auxilia pessoas e famílias em condições de rua — e outras organizações não-lucrativas contribuem para a sobrevivência dos desabrigados e surgem, literalmente, como uma luz no fim do túnel para um povo com poucas — ou quase nenhuma — oportunidade.