A vida de Carlos Marighella: político, escritor e guerrilheiro

02/11/2021 às 11:003 min de leitura

O baiano Carlos Marighella (1911-1969) já foi tema de livros, músicas e filmes. A produção mais recente é o longa-metragem biográfico dirigido pelo brasileiro Wagner Moura, que aborda os últimos momentos de vida desse polêmico e importante personagem da história brasileira. Nos últimos anos, as discussões políticas e históricas em torno de Marighella se tornaram frequentes.

Breve histórico

Marighella nasceu na cidade de Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Foi político, poeta, escritor e guerrilheiro. Conheceu muita gente importante, como o cineasta francês Jean-Luc Godard, o dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), o pintor Cândido Portinari (1903-1962), bem como os escritores Graciliano Ramos (1892-1953) e Jorge Amado (1912-2001).

Marighella ao centro. (Fonte: Isto é/ Reprodução)Marighella ao centro. (Fonte: Isto é/ Reprodução)

Experimentou na pele a repressão e a violência dos dois regimes autoritários da história do Brasil: o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e a ditadura militar iniciada com o golpe de 1964, finalizando em 1985. Foi no regime militar que a atuação de Marighella começou a incomodar. Como um dos líderes da resistência, chegou a ser considerado o principal inimigo da ditadura.

Da política à guerrilha

O pai de Marighella era o operário italiano Augusto Marighella, e a mãe dele, Maria Rita do Nascimento, era uma mulher negra e filha de escravos. Na juventude, Marighella chegou a cursar Engenharia Civil na Bahia, mas não deu continuidade aos estudos.

Na década de 1930, Marighella decidiu se filiar ao PCB para fazer oposição à ditadura presidencialista de Vargas instaurada com Estado Novo. Já nessa época passou pela prisão e pelas primeiras torturas. Foi preso 2 vezes, sendo que, na 2ª, ficou na cadeia por 6 anos.

(Fonte: Comissão da Verdade SP/ Reprodução)(Fonte: Comissão da Verdade SP/ Reprodução)

Depois de solto, conseguiu ser eleito pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) da Bahia como deputado federal em 1945. Porém, 2 anos depois perdeu o mandato: o partido foi categorizado como ilegal pelo governo. A partir desse momento, a solução encontrada por Marighella foi a militância praticada na clandestinidade.

Em 1964, por ocasião do Golpe Militar, o PCB ainda estava ativo, e Marighella continuava filiado ao partido. Contudo, abandonou a legenda devido a uma série de divergências. O principal motivo é que ele achava que o partido não tinha iniciativas nem a capacidade de criar algo capaz de derrotar o governo autoritário em vigor.

Nessa época, após ser baleado em um cinema, foi preso novamente. Quando saiu da cadeia, usou seus dons para a escrita para escrever e publicar o livro Por que resisti à prisão

Na publicação, ele fala um pouco de tudo que passou naquele período: a prisão, algumas reflexões sobre a vida, os desapontamentos em relação às direções adotadas pelo PCB e, claro, a importância e a necessidade urgente de se enfrentar o autoritarismo que dominava o Brasil.

Objetivos da luta armada

Não muito tempo após sair do PCB, Marighella criou a Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização armada com foco em lutas sociais e democráticas, cujo objetivo era acabar com o autoritarismo e repressão do governo militar.

O movimento cresceu rapidamente. Para financiar as atividades e garantir armamento, o grupo liderado pelo ex-deputado foi dividido em várias equipes táticas armadas, com a finalidade de assaltar bancos e quartéis em busca de dinheiro, armas e munições.

(Fonte: Carta Maior/ Reprodução)(Fonte: Carta Maior/ Reprodução)

Um dos mais famosos eventos realizados pela ALN liderada por Marighella foi o sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick. O ato tinha como finalidade forçar a liberação de 15 presos políticos.

Uma das estratégias para atrair novos integrantes e informar a sociedade sobre os objetivos da Ação Libertadora Nacional foi a chamada Rádio Libertadora. Basicamente, o esquema consistiu fitas cassete que pudessem ser tocadas em qualquer alto falante para espalhar as ideias do grupo. Em uma delas, os objetivos da causa e da luta armada eram citados pelo próprio líder guerrilheiro, os quais eram:

  • eliminar a ditadura militar;
  • extinguir o latifúndio e expropriar grandes latifundiários;
  • criar ações para melhorar e transformar as condições de vida dos trabalhadores operários, moradores do campo e da classe média;
  • expulsar os norte-americanos do país, bem como expropriar suas propriedades e bens — portanto, as companhias estrangeiras lideradas por esses indivíduos seriam tomadas, e o mesmo deveria ocorrer com as pessoas que colaborassem com eles;
  • o novo e revolucionário governo deveria ser formado pelo povo.

A execução

Mesmo sabendo das ações violentas promovidas pelo governo aos inimigos capturados, Marighella decidiu permanecer e continuar com sua luta no país sempre com armas nas mãos.

No dia 4 de novembro de 1969, caiu em uma emboscada e foi morto. Décadas depois de sua morte, em 1996, um dossiê elaborado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, do Ministério da Justiça, contestou as informações sobre a morte do guerrilheiro apresentadas pelo Dops por ocasião de sua execução.

(Fonte: Isto É/ Cada Minuto/ Reprodução)(Fonte: Isto É/ Cada Minuto/ Reprodução)

De acordo com o documento, o laudo do médico legista indicava que Marighella havia sido morto à queima-roupa, com tiro no peito, já dominado pela polícia. Depois disso, teria sido arrastado e deixado no carro em uma posição impossível, ou seja, incompatível com eventos relatados pelos policiais.

Em 2012, a Portaria n° 2.780, publicada no Diário Oficial da União, concedeu a Carlos Marighella a anistia post mortem.

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