Ciência
05/11/2021 às 15:56•3 min de leitura
Nesta última sexta-feira (5), a cantora Marília Mendonça sofreu um acidente fatal durante viagem de avião na serra de Caratinga, interior de Minas Gerais. A trágica morte da artista surge para encerrar uma das carreiras mais exemplares no cenário musical brasileiro, deixando uma legião de fãs em todo o país, uma dezena de álbuns e EPs lançados, inúmeros hits que marcaram época e o carisma de uma mulher que se destacou por defender a representatividade no meio artístico e a igualdade entre gêneros em especial no sertanejo.
Nascida em 22 de julho de 1995 na pequena cidade de Cristianópolis, Goiás, Marília Dias Mendonça teve seu primeiro contato com a música na igreja e começou a compor com 12 anos de idade, quando escreveu trilhas para João Neto e Frederico, Wesley Safadão, Henrique e Juliano, Matheus e Kauan, Jorge e Mateus, Cristiano Araújo e outros. Pouco tempo depois, a promissora artista se lançou como cantora e produziu seu primeiro EP original ao lado da gravadora Work Show, estourando definitivamente menos de um ano depois.
Após 2014, especialmente com o lançamento do single "Impasse" ao lado de Henrique e Juliano, Marília Mendonça passou a marcar presença em todas as rádios, programas de televisão, eventos e festivais em nível nacional, gravando seu primeiro DVD em março de 2016 (Marília Mendonça: Ao Vivo) e ganhando reconhecimento com a estreia de "Infiel", música que impulsionaria totalmente a carreira da cantora ao se tornar o segundo hit mais tocado nas rádios em 2016.
Considerada revelação da música sertaneja, a "Adele Brasileira", como foi chamada em seus anos iniciais como artista, impulsionou uma nova categoria no mercado do gênero: o "feminejo". Formado por mulheres que tratavam sobre empoderamento feminino, liberdade sexual e temas relacionados às lutas das mulheres, especialmente no meio sertanejo, que até então era dominado por duplas formadas essencialmente por homens, a categoria criou uma onda de duplas e cantoras solo que questionavam o machismo e a falta de igualdade participativa no estilo musical.
Imediatamente os temas dos hits mudaram e as mulheres tiveram a oportunidade de cantar com mais propriedade, revelando viver as mesmas angústias dos homens e serem capazes de dar a volta por cima, superar e se envolver em casos sem compromisso. E ao investir de vez em letras melancólicas, baseadas em fatos de sua vida e que democratizem a fragilidade humana, Marília Mendonça recebeu o título de "Rainha da Sofrência".
A partir de fevereiro de 2019, já com seis álbuns e EPs lançados, Marília Mendonça passou a realizar shows "surpresa" e gratuitos em várias regiões do Brasil. Suas apresentações, além de terem atraído milhões de fãs e espectadores, serviram como clipes para a gravação de novos DVDs e músicas inéditas, em uma turnê que foi chamada de "Todos os Cantos". A exibição trouxe hits como "Ciumeira", "Bem Pior Que Eu", "Todo Mundo Vai Sofrer" e "Supera", que valeram o prêmio Grammy Latino de Melhor Álbum Sertanejo pelo trabalho.
"A imagem que elas [as cantoras] estavam passando no sertanejo era de fragilidade, e isso não é respeitado pelo mercado. Agora está mudando. Estão aparecendo mais mulheres porque elas estão se impondo como homens. Paula Mattos, Maiara & Maraísa, eu. A gente chegou de um jeito diferente", comentou Marília, em entrevista à UOL.
Com apenas 26 anos, Marília Mendonça tornou-se uma das artistas brasileiras mais seguidas no YouTube, com mais de 22 milhões de pessoas. Em abril de 2020, ela bateu recorde de visualizações simultâneas em live, quando cerca de 3,3 milhões de pessoas acompanharam seu show ao vivo. No Instagram, seu perfil conta com quase 40 milhões de seguidores e até o início da pandemia da covid-19 ela tinha uma média de 200 shows por ano.
Muito além de cantar e compor, Marília Mendonça era uma pessoa ativa socialmente em relação às questões femininas, principalmente em defesa das mulheres que sofriam violência doméstica. A Rainha da Sofrência foi uma das mais engajadas durante o caso de agressão relatado pela influenciadora Pamella Holanda, que revelou ter sido agredida pelo DJ Ivys.
Além disso, ela constantemente emitia declarações sobre os perigos das redes sociais o como as publicações ofensivas podem fazer mal às pessoas, tratando de forma muito sincera questões como o cancelamento, ameaças étnicas e de gênero, ataques gratuitos e outros tipos de comportamento que minimizem alguém, favoreçam a autossabotagem e impulsionem problemas como depressão, ansiedade, medo e outras emoções negativas.
"Nós temos que tomar muito cuidado com o que compartilhamos na internet, mesmo que seja brincadeira. Boatos afetam bastante, mesmo quando dizemos que não... Mas, um relacionamento deve se manter firme diante dessas coisas", escreveu Marília. “Poxa gente, nós temos que tomar muito cuidado com o que compartilhamos na internet, mesmo que seja brincadeira, sem querer ferimos as pessoas.”
Desde 2014, Marília Mendonça vem encarando uma carreira meteórica que se destacou por inúmeras premiações, convites em todo tipo de programa, participação vip em grandes shows nacionais e promessas de um futuro ainda mais grandioso, visto que já havia planos para a turnê das Patroas, evento que prometia apresentações em quatro capitais, públicos de até 40 mil pessoas e colaboração com a dupla Maiara e Maraísa, prevista para ocorrer em 2022.
Indicada para o Grammy Latino de Melhor Álbum Sertanejo deste ano, a cantora deixa um dos legados mais significativos não apenas do meio sertanejo, mas de todo o cenário artístico brasileiro, simbolizando uma mulher revolucionária que certamente nunca será esquecida por quem teve as portas abertas graças à sua voz.