Comedor de pecados: a mais ingrata profissão já existente

17/01/2022 às 02:003 min de leitura

Por mais absurdo que possa soar, o mundo já contou com a curiosa profissão de “comedor de pecados”. Parece piada, mas era um trabalho relativamente comum na Europa dos séculos XVIII e XIX, especialmente na Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Esta insólita profissão já serviu de inspiração para filmes como O Devorador de Pecados, longa-metragem de 2003 com um já proeminente Heath Ledger no elenco. Sem ligação com nenhuma religião, comer pecados era mais uma fonte de renda para os miseráveis do que uma atuação honrada.

A ideia por trás da profissão

(Fonte: Second History)(Fonte: Second History)

A fé e as religiões já tiveram um peso muito maior nas tradições da sociedade do que atualmente. Pessoas que sabiam que iriam morrer tinham por hábito fazer uma confissão final a um padre, de forma a ter seus pecados absolvidos para poder entrar no céu. Contudo, não é todo mundo que consegue antecipar a hora do seu fim.

Foi assim que surgiu a tradição, posteriormente transformada em profissão, de consumir um pão com os pecados do morto. Um pedaço de pão era estrategicamente colocado sob o peito de uma pessoa recém-falecida, em geral as que morriam repentinamente. A família, então, contratava um profissional que devia ficar sentado frente a frente com o morto.

O conceito do ritual era que os pecados do morto ficariam concentrados neste pão, que posteriormente deveria ser ingerido pelo “comedor” contratado. Ainda que por vezes o ritual também incluísse vinho ou cerveja, era no pão que se acreditava terem ficado os pecados do morto e suas ações mundanas, abrindo caminho para que tivesse a vida eterna no céu.

Sem ligação com a Igreja, mas com fundo bíblico

(Fonte: Biblioteca Britânica)(Fonte: Biblioteca Britânica)

Ao contrário do que possamos imaginar: era uma espécie de ritual pagão, sem qualquer ligação com os clérigos. Contudo, mesmo que não haja conexões com a religião e suas reais origens sejam desconhecidas, uma interpretação aceita para os comedores de pecado tem origem nas cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação.

O rito é descrito na Bíblia no livro de Levítico: Aarão, irmão mais velho de Moisés, deveria sacrificar um bode e oferecê-lo a Deus, livrando o povo de Israel de seus pecados. Esta hipótese foi levantada em uma carta publicada no jornal The Irish Times no ano de 1913.

Quem eram os comedores de pecados

(Fonte: Second History)(Fonte: Second History)

Não é difícil traçar o perfil de quem atuava como comedor de pecados, afinal ele estaria ingerindo todo o mal de quem morreu, algo que dificilmente alguém da elite se prestaria a fazer.

Um poema galês datado do início do século XX descreve os comedores de pecados como pessoas magras, medonhas e miseravelmente pobres. Mas se este era um trabalho desonroso, por que eles se prestavam a fazê-lo?

As informações que temos atualmente dizem que os comedores de pecados recebiam o equivalente a poucos dólares em troca de comerem o pão pecaminoso. Historiadores mostram que a maioria ganhava a vida de maneira informal, muitos deles sendo mendigos.

Havia um enorme estigma envolvendo quem vivia desta profissão, pois o imaginário coletivo acreditava que eles absorviam o mal que ingeriam. Porém, como eram pobres e marginalizados, ser um comedor era, muitas vezes, a única fonte de renda para uma vida menos paupérrima.

O desaparecimento dos comedores

(Fonte: BBC)(Fonte: BBC)

De tradição à profissão extinta, os comedores de pecados foram, pouco a pouco, sumindo do mapa da mesma forma que surgiram, sem alarde. Pesquisas indicam que o último dos devoradores foi Richard Munslow, um agricultor do País de Gales que teria entrado para a carreira para oferecer aos quatro filhos mortos uma vida pós-morte melhor.

Como ainda havia pessoas que procuravam este tipo de serviço, Munslow teria seguido adiante, oferecendo seus “dotes” de comedor de pecados às pessoas que o procuravam para amenizar as maldades de seus entes queridos.

Munslow acabou morrendo em 1906 e foi enterrado em Ratlinghope, cemitério da vila de Shropshire na Inglaterra. Em 2010, seu túmulo foi restaurado pela comunidade. Sem mais registros, a história aponta que o papel de “cura dos pecados” tenha retornado aos sacerdotes, contudo sem nenhum consumo de pão com temperos sobrenaturais.

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